terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sessão Dr Phill

São raras as vezes que ligo a televisão. Mais raras são as vezes que me proponho a assistir programas como o do Dr Phill. E uma das razões é pela oferta constante da confirmação da loucura/estupidez que anda à solta. Até dá medo sair de casa.
Mas desta vez fiquei absorvida. O Dr Phill é um senhor, um excelente mediador, com uma conduta exemplar, ou pelo menos desempenha bem o papel em palco, mesmo que depois chegue a casa e parta a loiça toda. Pois, pouco interessam neste momento as suas qualidades enquanto apresentador, psicólogo, advogado, e seja lá mais o que ele for. Aqui ele é um 'boneco'. O assunto é outro.
O assunto em discussão era "casamentos homossexuais".
Não sei porquê que me continuo a espantar com a estupidez alheia, mas a verdade é que continuo. E tenho cá para mim que isso é saudável.
Havia casais homossexuais e heterossexuais como convidados. Cada um a puxar a brasa à sua sardinha.
Um dos casais, dois homens, com duas lindas meninas adoptadas, dizem "Nós apenas queremos ver e sentir que somos iguais perante a sociedade e perante a lei." Não conhecendo as criaturas de parte alguma, pareceram-me pessoas sensatas e sensíveis. Cidadãos comuns, com aspirações tão triviais como o de ter uma familia.
Qual o meu espanto quando um dos casais heterossexual responde com a seguinte bordoada: "Não concordamos, o casamento homossexual vem destabilizar a estrutura tradicional da familia. Não bíblia Deus diz que uniões do mesmo sexo é pecado. E estamos muito preocupados porque o nosso filho no outro dia perguntou se um dia seria obrigado a casar com um homem caso a lei dos casamentos homossexuais fosse aprovada. Isto está a deixar as crianças confusas".
A minha vontade foi de saltar para dentro do ecrã e atirar-me ao gasganete daquela gente. Coitado do filho que se, por acaso, for gay... tá "feito ao bife". E mesmo não sendo, é filho de duas pessoas ignorantes que não conseguem pensar por si mesmas sem recorrer a coisas que alguém escreveu... há só uns 3000 atrás. (ah, não, foi só há 2000...ou talvez há 900...ou talvez há 750..ninguém sabe... mas é de certo credível! Enfim...)

Que força imensa é esta que a Bíblia detém? Que força imensa é esta que as leis humanas detêm?
Deixamos de nos permitir sentir e viver a nossa natureza. Formatamos os nossos pensamentos, opiniões, sensações para pertencer a um padrão. O padrão "correcto".
Ser mau para o próximo parece-me a mim o único pecado. E não permitir que alguém seja feliz por puro egoísmo e medo de perder a "estrutura tradicional" é ser-se mau para o próximo.
Tenho a convicção de que aquelas duas meninas que estão a ser criadas pelo casal homossexual vão ser infinitamente mais felizes que o filho do casal retardado.

Deus disse, no livro do Génesis, "Eu sou aquilo que é". Ninguém tenta perceber estas frases mais enigmáticas, saltam logo para a parte das catástofres e lêem-nas de forma literal. Mas como não sou perita nas escrituras sagradas e para não cair no ridículo nem ofender ninguém, apenas deixo a minha interpretação.
"Eu sou aquilo que é" insita-nos à meditação, ao descobrir do nosso eu mais profundo, sem conceitos, preconceitos, opiniões, vontades, expectativas, ilusões. "Eu sou aquilo que é" diz-nos que devemos deixar de lado tudo o que nos transforma em palavras e descrições. Somos aquilo que somos. Sejam, sintam, vivam, amem.

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