terça-feira, 31 de julho de 2012

A rapariga chamava-se Alma. Tinham-lhe dado esse nome num a ver se ela alguma alma lhes trazia, à vida que já pouco surpeendia. A mãe, Maria Queixume, julgou ver esse brilho, durante os minutos que frouxamente a segurou, no meio das mantas, que apesar de velhas, o sangue não poupou.
Alma tinha, de facto, uma alma. Mas daquelas que vagueiam de um lado para lado nenhum. Silenciosa e taciturna, a miuda cresceu, mas nunca engrandeceu. E o pai de vinho se emborcou, pois a alma que ele queria que Alma fosse, não era mais que a sua que se perdera e nunca mais se avistou.  
Alheia ao peso da sua alma, que pesaria, afinal, coisa nenhuma, ela seguia o seu caminho de ninguém, com os pés presos no chão e nunca mais além.
Um dia a mãe Maria Queixume lhe disse:
-Mas tu não fazes nada? Trouxemos-te ao mundo para nos surpreender e olha o que o teu pai acabou por fazer!". Alma encolheu os ombros e disse:
- Olha o céu, mãe. Aquelas estrelas brilham tanto, e estão sempre no mesmo lugar".


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