segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Beleza


Neste texto vou falar do Belo. Não do belo rapaz ou do belo carro, mas sim do Belo. E como a Beleza pode ser encontrada em muitos lados, tenho de especificar - O Belo do qual falarei é o das palavras e da escrita.

Mas antes de mais tenho de admitir que há uns macaquinhos aqui a morderem-me a consciência. É que meio mundo anda preocupado e indignado (e com razão) com o que se passa na faixa de Gaza. E outro meio mundo preocupado e indignado com a crise, com novos bancos e outras aparições cómico-trágicas. E vou estar aqui eu a falar de .... escrita!?
Demasiado tarde. É que além de me apetecer muito, também não sei bem o que posso fazer em relação aos outros problemas. E sinto-me uma privilegiada por poder escrever este texto sem me sentir na eminência de explodir com um qualquer míssil cego, surdo e estúpido. E isto não foi uma piada. Portanto, vamos lá a isto.

Muitas pessoas não pensam, ou não dão importância, na Beleza que são as palavras, na Beleza de um discurso bem redigido, na Beleza de um pensamento ou emoção transformados em escrita. Há aqueles que não têm queda ou jeito, têm mais que fazer, mas são muitos mais aqueles que simplesmente se estão marimbando. A este último tipo eu costumo lançar um olhar quase de ódio. Sem misseis envolvidos, mas alguma irritação, sim!
Diz-se que a nossa língua é a nossa Pátria. Mas quem o disse, julgo eu, não se referia ao movimento 'correr-o-mais-que-podes-e-hastear-a-bandeira-para-que-a-terra-seja-tua'. Julgo eu que se referia antes ao um profundo sentimento não materialista de ser capaz de fazer falar o coração. E essa terra já é tua, sem serem necessárias bandeiras nem fronteiras, mas!, tens de cuidar dela.

Eu tenho um profundo desgosto em ser péssima a matemática. E a geometria. E a química. A sério, gostava mesmo de perceber e falar sobre essas coisas, mas não consigo. Mas posso falar de palavras. Adoro-as. E com elas vêm as vírgulas e os pontos de exclamação e interrogação, entre outros 'bonequinhos'. É extraordinário podermos fazer falar o coração. Acho que talvez tenha sido a mais brilhante criação da humanidade - a escrita.

Mas não se trata apenas de sermos capazes de exprimir pensamentos e escrevê-los. Tu não aprendes a falar e a escrever para simplesmente poderes comunicar. Eu vejo para além da utilidade prática, eu vejo Beleza. E quem não preserva essa Beleza é um bruto.
Na escola ensinam-nos que temos de aprender o alfabeto e como conjugar as letras para formarmos palavras e assim comunicarmos. Mas não acham que isto é demasiado redutor? Não é só para isso que aprendemos a conjugar letras, é também para criar Beleza.

Já me irritei mais com as novas linguagens cibernéticas ou de mensagens de telemóvel. Agora até lhes vejo alguma graça, mas desde que sejam respeitadas. Se a palavra 'mensagem', num chat ou coisa equivalente, se tornou 'msn', então preservem o tal do 'msn'. E uma nova pátria surge! Mas deixem esse planeta gravitar no eixo a que pertence. Não escrevam cartas aos namorado(as) com essas siglas manhosas.

Mas aquilo que realmente me deixa de cabelos em pé são as pessoas ditas instruídas e de berço de ouro (ou de prata, que já não é mau) assassinarem a lógica e a Beleza da escrita. Muriel Barbery diz no seu livro uma coisa bastante mórbida, mas deliciosa - "(...) Os favores da sorte têm um preço. Para quem beneficia das indulgências da vida, a obrigação da praxe na consideração da beleza não é negociável. A língua, essa riqueza do homem, e os seus usos, uma elaboração da comunidade social, são obras sagradas. Os ricos têm o dever de preservar o Belo. Senão, merecem morrer(...)"
Não, não acho que mereçam morrer. Mas a personagem que dizia estas pérolas tinha um sentido de humor bastante cortante. E com faca de talhante! Mas talvez mereçam um par de estalos.

Como disse, eu sou uma nódoa a matemática e, por conseguinte, não me meto em grandes aventuras com tudo o que envolva números. Quem não sabe escrever ou nunca percebeu que a qualquer tentativa de o fazer sai um vómito verde-tinto - devia ficar quieto. Mas como sei que é muito, muito importante continuar a publicar novos status no Facebook, então o conselho é: aprendam a escrever primeiro. Não tornem o Belo no Horrível.  

Claro está que depois há sempre uma certa liberdade à qual eu chamo de 'artística'. Há quem escreva de certa forma deliberadamente especial com um propósito. Transformam as letras em arte plástica. E isto também tem direito à vida! Mas da mesma forma que me chateiam aqueles quadros negros com a legenda 'sem título', não esperem que toda a gente vos entenda.

Para terminar - eu não sou escritora, eu apenas gosto muito disto. E não alcancei ainda a Beleza máxima. Talvez nunca consiga. Mas sonho com ela. Já é algo.


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