domingo, 10 de março de 2013

Somos todos homens na terra


Somos todos homens na terra, mas talvez não haja nem terra nem homens. Talvez um Deus nos engane. Talvez um Deus nos tenha condenado ao tempo, essa longa ilusão. 
Sonhámos a lua, o sol, as estrelas, o mar, e até os olhos que tudo isso vêem. Sonhámos o amarelo, o azul e o vermelho. Sonhámos as noites e as manhãs, o escuro e o claro; sonhámos o dia de hoje e sonharemos o dia de amanhã. Sonhámos o ponto, a linha, o volume, a perspectiva, a profundidade. 
E então talvez um Deus nos engane. Talvez comamos pedaços de nada pensando comer maçãs. Talvez sejamos nuvens de fumaça imaginando-nos homens. 
Sonhamos ter valor, mas talvez não o tenhamos. Valor, essa longa ilusão. Talvez um Deus nos engane e nos tenha condenado a essa persistência inútil.  
Só os místicos podem dizer se a vida tem valor. Mas talvez os místicos sejam também eles uma mentira. E até o Deus que nos engana, talvez nem ele próprio exista. Nem ele, nem a mentira. Se não há mentira tão pouco haverá verdade.
A Alma esté em crer que o cão é cão e que ali ao canto se encontra deitado, protegendo, acompanhando. O cão está em crer que eu sou gente e que o protejo e acompanho a ele. Dou-lhe de comer, dou-me de comer. Deito e acordo. Todos os sonhos e dias sonhados. Porque é assim que tem de ser. Mas é assim que tem de ser?
É que talvez esse Deus sejamos nós. E então num verdadeiro exercício de liberdade, só me apetece dizer: mas que grande Porra!       

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