sábado, 1 de fevereiro de 2014

"Eu sou genial! Ou como diriam os franceses, Je suis géniale!"


Em consequência do "discurso" de Assunção Esteves, apeteceu-me escrever isto.

Num português refinadíssimo, de tal forma que se torna quase incompreensível, terá deixado o pessoal pouco instruído completamente à nora. Porque além de parecer ter engolido um dicionário de palavras e expressões crípticas, ainda recorreu ao francês e ao inglês, não fosse ela, de facto, uma senhora muito erudita e culta!
Não tenho nada contra quem sabe francês, eu gostava de saber. Também não tenho nada contra quem abunda vocabulário variadíssimo. É sinal de sabedoria ou conhecimento. Acho eu...
Mas este tipo de discurso para um público que está a ser cada vez mais privado de uma boa educação, parece-me apenas estúpido. Oh Assunção, troca lá isso por miúdos. Ninguém te vai achar menos interessante! Se é que alguém te acha interessante...
Mas houve uma coisa que me deixou ainda mais acelerada: quando ela diz que tem medo do egoísmo.
- Do egoísmo que nos deixa, de certo modo, castrados, em termos pessoais e em termos coletivos.

Eu acho que ela foi egoísta quando decidiu transbordar palavras e figuras de estilo impercetíveis.
E mais egoísta é quando não abdica do seu salário e das não sei quantas reformas de vários dígitos em tempos de crise.

Mas enfim, nem quero falar muito da senhora, porque não a conheço pessoalmente.
Ela é apenas um exemplo dos muitos gabirus que se acham geniais e que acham que não devem nada a ninguém.
Intelectuais da tanga que estão no poleiro, que proferem citações de uns tantos escritores eruditos e mandam umas palavras em francês ou chinês.
Queria era ver-vos a fazer alguma coisa real pelo estado em que deixaram o Estado!
Ide plantar batatas e couves! Ide apanhá-las e distribuí-las! Que palavras refinadas enchem a cabeça, mas não o estomago! Ou como diria o 'outro' - Vai mas é apanhar morangos!

O egoísmo faz, de certa forma, parte de todos nós. Todos temos um ego e todos temos uma certa dose de egoísmo. Mas há quem ultrapasse os limites.
Há pouco tempo em conversa com um rapaz (que mal conheço) dizia-lhe que achava inadmissível que certas figuras que detêm mais poder e riqueza, não sentissem a necessidade ou responsabilidade de ajudar os outros. Fosse criando mais postos de trabalho e abdicando assim um pouco do seu salário que iria ser distribuído por mais pessoas, ou fosse apenas ajudando diretamente algumas famílias carenciadas. Embora saiba que há pessoas que o fazem, mas sei de muitas que não.
E a resposta do tipo foi:
- Oh Aninhas, se tu te habituasses a receber 12.000 euros por mês, também não ias querer abdicar desse dinheiro, mesmo que pusesses menos pessoal a trabalhar e os matasses de stress.

Tive vontade de esganar a criatura. Afinal até o povinho que menos tem, pensa desta forma.
Para que quero eu 12.000 euros? E quem sou eu para achar que não sou responsável pelos outros?
Eu acho que todos somos responsáveis uns pelos outros. De uma forma mais ou menos direta, mas somos.
Quando a Assunção diz "(...) tenho medo do inconseguimento, que a Europa se sinta pouca conseguida, que não seja capaz de projetar para o mundo o seu 'soft-power' sagrado, a sua mística dos direitos, a sua religião civil da dignidade humana (...)".... Okay, vamos tentar traduzir isto para português corrente: o tal do 'soft-power' sagrado imagino que se refira ao poder de influenciar os outros através da cultura e dos valores, e não através das armas. Nisso a Europa até se tem portado bem. Não foge totalmente ao seu sentido... mas falando da tal projeção da mística dos direitos civis e dignidade humana, metendo a palavra 'sagrado' pelo meio, só tenho uma pergunta a fazer:
Projetar para o mundo o quê, mesmo?
Ela ficava bem a discursar no Festival Boom.

Claro que não nos podemos queixar de muita coisa, por enquanto ainda não estamos a viver uma guerra civil como na Síria, nem sofremos de escassez de água potável. Também vivemos num país onde temos liberdade de expressão, o que é ótimo! Tanta liberdade que esta gente até pode vir para televisão dizer o que me pareceu um relato de futebol em reverse.
Mas de momento não vejo porque tem ela medo de não sermos capazes de projetar no mundo a tal dignidade dos direitos humanos, porque nem ela sabe o que é isso.
O que ela tem medo é que isso não exista, de facto, nem nunca tenha existido. Não para todos. E se não é para todos, então é uma falácia.
Lutar pela dignidade humana não é, no meu ver, distribuir umas sopinhas aos pobres, é sim dar-lhes ferramentas para que consigam eles mesmos fazer a sua sopa. Não é criar umas quantas instituições, onde deixam as pessoas ao Deus-dará, mas sim dar-lhes a conhecer o seu verdadeiro potencial e deixa-las exercê-lo! Parece-me mais importante que possamos viver realmente essa tal da dignidade civil e humana do que projetar apenas a ideia da existência de uma, quando ela não existe.
Consegues ou inconsegues perceber isso, minha querida? Ah.. e a palavra/verbo 'inconseguir'...tambem nao existe! Poupa os 'francesismos' para as tuas conversas de cafe.

Boa Tarde! Ou como diriam os franceses, bonne après-midi!

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