segunda-feira, 22 de junho de 2009

Amor de pedra

Nãaao, não me estou a referir metaforicamente ao coração de ninguém, nem a um sentimento duro e insondável. É mais linear que isso. Refiro-me à minha paixão platónica pelo David de Miguel Ângelo. Sim, ele é de pedra...e então? Não lava a loiça nem aspira o chão, mas também não diz barbaridades...! Ou não fosse ele de pedra...
Ele já deixou de ser único, porque dele fizeram dezenas de cópias, e há as que são executadas com tanta perfeição que diriamos estar perante o original. A mim isso não me interessa. Na verdade se me pusessem um clone do Jude Law à frente, mesmo sabendo que não era o original, não pensava duas vezes. Não pensava, ponto final... Mas falando do David e das suas cópias, bom bom era o Berardo plantar um lá no CCB, porque assim escusava de me despencar até Itália!

Como todos os amores, este amor pelo David está embuido de vantagens e de desvantagens, de momentos de plena ternura e de momentos de crises altamente patológicas (porque o amor é uma patologia...embora seja das patologias mais bem vindas deste mundo).
Começando pelas vantagens, a mais óbvia é o facto de ele não ir a lado nenhum: não sai à noite, não se mete nos copos, não chega tarde e a más horas e não trai ninguém. Não preciso de perguntar "David, onde estiveste ontem à noite?", "David, que perfume é esse na tua roupa?". Porque ele não vai a lado nenhum e também não usa roupa: outra vantagem belissima de se constactar! (strike 2)
Outra vantagem será o facto de nunca envelhecer. Ele é sempre bonito, sempre jovem, sempre no auge da virilidade. Ninguém diria que o rapaz já vai para 5o0 anos e troca o passo, e nunca precisou de ir à Corporation Dermoestetica encher as peles. E está sempre na mesma pose.
A terceira vantagem nesta relação prende-se no facto de eu poder continuar a fazer a minha vidinha e não ter ninguém a pedir-me satisfações. Sim, porque ainda ontem fui ao Bairro Alto e ele não me mandou nenhuma mensagem enfurecida a perguntar onde raio eu andava e com quem estava. Isso é supimpa.
Mas depois de tanta parvoice junta, chega a hora das desvantagens: Ele não ajuda em casa; Ele não leva o cão a passear; Ele não aquece os pés de ninguém à noite; Ele é frio; Ele é de pedra!
O próprio Miguel Ângelo, de uma "gayolice" assumida (e acho muito bem), perguntou, certo dia, à sua obra prima "Porque és tu de pedra, meu amor?". Coitado do senhor, a partir do próprio cinzel esculpiu o homem perfeito e não pode atribuir-lhe o mais importante que foi a vida.
E os meus sentimentos vão para ele, porque não há ninguém que o entenda melhor que eu. O David, com as suas mãos sapudas e grandes, e o seu tronco eximiamente delineado, inspira paixões mas não aquece corações. Maior problema que esse é o facto dos Homens-Vivos, os de sangue e carne feitos, também não conseguitem tal proeza. Então, se os orgânicos não nos valem, fiquemo-nos pelos idílicos, porque com esses pelo menos podemos construir a história à nossa maneira.

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