domingo, 20 de setembro de 2009

a vida num depósito

Um dia disseram-me assim: "As tuas inseguranças já têm depósito". 
Em vez de pensar no verdadeiro significado subjacente, o que me veio à cabeça foi a imagem de um copo cheio, com a palavra "insegurança" no fundo, como se fossem o depósito de um líquido estranho. No fundo também estava eu, afogada por entre as palavras e os momentos que se tinham acumulado. Acho que desde o dia em que me vi dentro de um copo cheio de impurezas no fundo, não fui mais a mesma.

P.S. Isto não são pensamentos de gaja.  

A Lei

A lei. Qual é o senso comum dessa palavra que pretende obrigar a natureza humana a ser o que não é? Ela julga, condena ou absolve, perdoa e castiga os homens e não os conhece nem por sombras, nunca os estudou na sua verdade nua e crua.  
Mas por outro lado...onde está o senso comum dessa anarquia que não entende que onde começa a liberdade do outro, termina a nossa?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Para aqueles que gostam de escrever.


Eu gosto de escrever. E isso traz em anexo um problema: falo menos. 
Quando se escreve podemos pensar, com tempo, naquilo que queremos dizer, descrever exactamente aquilo que sentimos, por as vírgulas e as pausas nos sítios certos. Podemos voltar atrás a apagar e voltar a escrever e rescrever. Escolher as palavras ideais, lê-las e editá-las, não ao nosso gosto, mas ao nosso sentido, e dizer, claramente, o que queremos que os outros entendam. Mas será isso um defeito? Escolher a via do lápis, do papel ou do computador, em detrimento de uma presença transparente?
Bem, não é uma questão de ser-se falso, cínico ou teatral. A questão é se sabemos demonstrar, de facto, aquilo que sentimos... através do gesto, das palavras ditas, das expressões, da atitude. Cada vez mais percebo que aquilo que mostramos ser nunca é aquilo que de verdade somos. Ou porque somos cheios de artimanhas ou porque cada pessoa vai entender de uma forma muita pessoal a nossa mensagem. Mesmo que essa mensagem tenha um sentido único, cada um interpretará à sua maneira o seu significado. E no fim, temos várias versões de nós mesmos a passear pelo mundo: aquilo que de facto somos, aquilo que a nossa mãe acha de nós, aquilo que cada amigo e cada familiar entende para si mesmo ser a verdade. 
Tenho a certeza que se todos nós nos filmássemos durante uns dias, quando nos víssemos não íamos reconhecer aquela pessoa que, por acaso, somos nós mesmos. Deve ser um choque e tanto. Íamos ver de fora a pessoa que os outros vêm, mas que nos é impossível ver dessa perspectiva. 
E com isto quero dizer que mais vale não levar nada a sério, porque no fim do dia, aquilo que realmente importa é ser feliz e fazer felizes todas essas pessoas que nos confundem e que não entendemos no seu âmago profundo, mas de quem gostamos e precisamos para continuar a viver.  
Não sei se algum dia vou conseguir atingir esse estado mágico de transparência, mas também não sei se essa transparência vai ser entendida sempre da mesma maneira. Só sei que a escrever, consigo por as virgulas e as pausas nos sítios certos. Posso voltar atrás a apagar e voltar a escrever e rescrever. Escolher as palavras ideais, lê-las e editá-las, não ao meu gosto, mas ao meu sentido, e dizer, claramente, o que quero que os outros entendam.  

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Chico ou Control?


Estava eu a ver um programa qualquer de entretenimento, naqueles momentos de absorto "não-fazer-nenhum", quando o dito cujo termina e entra a publicidade aos patrocinadores. Aquela dança habitual de referências às lojas que vestiram as apresentadoras e os cabeleireiros que as pentearam, etc e tal, e, no final, um terno apontamento de um anúncio da Chico, centrado numa bela criança de olhos azuis a saltitar numa qualquer geringonza de brincar. Até aí tudo bem, se no final não se ouvisse o slogan "Control, demoras mais, chegas mais tarde". 
...Eis então o que sucedeu: sobrepuseram o anuncio da Chico com o som do anuncio dos preservaticos Control. E eu fiquei a pensar se teria sido realmente um engano ou uma piada de algum espirituoso. Só sei que a mensagem que passou foi "esta criança é linda e fofinha, como vêem, mas não as tenham, protejam-se delas". 

Pobre miúdo, rejeitado em praça pública...