domingo, 31 de março de 2013

Des-ambição

Quando não nos resta ambição na alma, aquilo que nos resta é uma desambição, mas essa não é calma.
As caminhadas são as mesmas, as pedras da calçada percorridas sempre iguais e o mesmo animal pela trela e seus tiques habituais.
O não-novo que desespera, mas de novo nada tão pouco se espera. E olhando para o animal pela trela, pensamos que em algo ainda pomos atenção, mas de que serve ela se em nós não sentimos qualquer emoção...
Lealdade ou generosidade podem ser uma virtude, mas às vezes uma virtude triste.
O meu propósito é cuidar de ti, ainda que nunca venhas a dizer aquilo que sentiste.
Pois és um cão, mas a ti devoto um pouco da minha paixão. Da muita que foi sendo engolida por tamanha frustração de não ter conseguido transformar os castelos de nuvem em castelos de pão.
Nesse castelo onde me pudesse alimentar e continuando a sonhar na possibilidade ou na ilusão.
Onde pudesse fazer de ti a minha companhia e não de mim a tua.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Um Papa pouco 'papável'


Ora cá está um tema do qual ninguém fala! (para os mais ingénuos, estou, obviamente, a ser irónica).
Mas tem tanto que se lhe diga que tenho também eu de falar....embora esteja com medo de fazer um texto de 3 km. Vou tentar entrar já em 5ª mudança para que a jornada não seja longa.

O Papa, sua Santidade e Eminência, o Papa. O seguidor de São Pedro que foi aquele que, dizem as lendas, botou o primeiro calhau no local onde hoje em dia se encontra a Catedral de seu mesmíssimo nome.
Eu já lá estive e é sem dúvida uma assombrosa Catedral. Fiquei estupefacta a olhar para aquelas esculturas com a altura de 5 homens, talhadas por sei lá quantos artistas já idos, de uma maestria incrível. E de facto sente-se uma certa emoção, quase como um encontro com anjos ou unicórnios, ao entrar na Catedral e ao observar tamanha Arte e tamanha Beleza. E nem é preciso estar em ácidos! Não, esqueçam isso, e até evitam embaraços no aeroporto.
Mas rápido me apercebi que era a emoção pelo sagrado da Arte e não pelo sagrado 'Senhor' (..Aquele...sabes? A quem rezas todas as noites e nunca faz o que pedes, sabes? Okay, esse mesmo.)

Mas voltando ao Papa... Andam as más línguas a dizer que o último resignou porque está com Alzheimer. Se calhar está. Sei lá eu. Não me mandou nenhum tweet com as novidades...!
Mas tenho cá para mim que não, que o que ele teve foi uma crise religiosa. Apercebeu-se que Deus nem a ele aparece e então desistiu de falar em nome Dele. Fez birrinha. E talvez até tenha sido isso que lhe provocou o tal do Alzheimer, se é que isso é realmente verdade.

E agora temos outro. Claro. Porque a Igreja sem Papa é como....errrr....um bolo sem cereja no topo?
Até hoje não sei para que ele serve. Digamos que será o porta-voz, aquele que diz o que a corja manda dizer e pouco mais. O RP do Vatican Club! E pagas para entrar como em outro Club qualquer, assim como não vale ir mal vestido: meninas de saia e decote..nem pensar! (Ainda me lembro que tive de comprar uma t-shirt foleira porque ia com os braços descobertos (ya, estão 40º!) )
E o que a corja manda dizer (não esquecendo que dessa corja faz ele também parte) é que nos amemos uns aos outros como irmãos, como iguais. Muito bonito!
Mas depois rapidamente se contradizem dizendo que entre todos estes 'iguais' que somos há, sim, muitas diferenças.

Hoje vi publicada uma frase que terá sido proferida pelo novo Papa. Não tenho ainda como confirmar se realmente a disse ou não (o Facebook também está minado de 'brincalhões'), mas acredito realmente que a tenha dito:
"As mulheres são naturalmente inaptas para exercer cargos políticos. A ordem natural e os feitos mostram-nos que o homem é o ser político por excelência. As escrituras demonstram que a mulher é e sempre foi o apoio do homem pensador e fazedor, mas nada mais que isso".
E a única coisa que me veio à cabeça depois de ler tamanha barbaridade foi apenas um "Ai....", levando à mão à testa.

E depois lembrei-me de uma parrafada que eu mesma publiquei no Dia da Mulher, exaltando as diferenças entre homens e mulheres e dizendo que delas advém uma grande beleza. Mas essas diferenças não estão na qualidade de pensamento e na qualidade dos feitos. Serão as diferenças óbvias como o facto de uma mulher dar à luz e um homem não, de uma mulher ter uma maior aptidão para certos ofícios nos quais o homem é mais tosco. Ou o facto de o homem ter mais força física e, por conseguinte, ter uma capacidade defensiva maior ou o facto de ter também ele uma maior aptidão para certos ofícios que uma mulher não terá (mas não descorando as excepções, é claro). Serão então, também, as diferenças de um sentir e pensar, porque, de facto, não somos iguais. Mas como essas diferenças são complementares e nunca deveriam ser tratadas com desigualdade de dignidade e qualidade.
Sei empiricamente que tenho muito mais jeito e paciência para coser bainhas que o meu irmão. E sei empiricamente que ele tem muito mais jeito e paciência para jogar à bola. Ele vai ficar irritado por nem sequer acertar com o fio no buraco e se o conseguir vai coser tudo aos zig-zagues. Eu vou ficar irritada por nem sequer acertar na bola e vê-la passar a correr ao meu lado.
Sei empiricamente que as mulheres, regra geral, são mais dadas a arrumações, ao detalhe, às artes e inclusive aos cozinhados (embora os famosos chefs sejam quase sempre homens, mas simplesmente porque foi retirado o 'spotlight' à mulher durante muito tempo.) E sei empiricamente que os homens são mais dados aos arranjos eléctricos, à informática ou, em tempos idos, aos campos de batalha.
Mas também sei empiricamente que há excepções em todo o lado. Há mulheres que jogam à bola maravilhosamente e homens que fazem arranjos de flores como ninguém! E nem um nem outro têm de ser necessariamente homossexuais.

Mas, ainda que haja diferenças, onde entra a tal convicção de que um tem capacidade de liderança e o outro não? Onde entra a tal convicção de que um apenas apoia e o outro é que é realmente capacitado para pensar e fazer acontecer?
Em lado nenhum. É só a vergonhosa continuação de um achincalhamento ao Ser Mulher que pretendem perpetuar no tempo. E a única razão que me parece mais verosímil para que isto continue a acontecer é o grande temor que esta gente tem da mudança. Ui, como é difícil sair da zona de conforto... Ui, como temem eles que de repente as mulheres assumam cada vez mais cargos de liderança e eles sejam relegados para cargos de outro tipo. Cargos esses que de mal nada têm, salvo seja.
E porque têm eles tanto medo de sair dessa zona de conforto? Talvez porque já se aperceberam, há muitos milhares de anos, que de facto a mulher também tem poder.

Dizem também eles que não concordam com a união de casais homossexuais (ou melhor dito: desaprovam a homossexualidade, ponto final), porque dessas uniões não nascem frutos/filhos. E a pergunta que fica no ar é: E então o vosso voto de castidade? Sai criancinha dai?...Só se estiverem à espera do safado do Espírito-Santo que engravida virgens! Mas quanto a esse tipo, acho que vos enganou e bem. A virgem não era virgem e o Espírito era bem homem...
Mas também deixem-me que vos diga que de gente está o mundo cheio. E por isso, a nós um grande favor fazem em serem castos! Claro que toda a gente desconfia que entre as vossas quatro paredes 'vai tudo quanto mexe', mas isso a mim pouco me importa (só me importa se o que mexe forem criancinhas, as tais que vocês tanto prezam...não é? Porque de resto, é para o lado que eu durmo melhor.)

Este é um Papa pouco papável. Até tem um ar de avôzinho simpático, mas anda há muitos anos em péssimas companhias. Pouco papável como terão sido quase todos os outros. Mas há que 'pape'! Mas só o papam os que gostam de levar com areia nos olhos. Vai Papa, vai areia, vai papinha de areia, vai tudo.

E para terminar: porque haveremos nós de acreditar em parábolas escritas há mais de 2000 mil anos atrás se o que vem no Correio da Manhã, a cada dia, é 50% falso? Quem diz Correio da Manhã diz outro jornal/revista qualquer.
Mas tem piada, eu usei a palavra parábola. Ide ver o que significa o termo 'parábola' e parai de levar ao pé da letra as bem-ditas das escrituras. Escrituras essas que por acaso li (..edição Paulista, 2500 folhinhas de vegetal - um verdadeiro sacrifício..) e foi dos livros mais aborrecidos que algum dia tive o (des)prazer de ler. No entanto, se tiver a paciência de Jó (uma das muitas personagens bíblicas que sofreu horrores como provação), até pode ser que encontre muitos belos ensinamentos nele, mas creio que tudo dependerá da minha interpretação e da perspectiva em que eu mesma vou querer po-los.

E agora cantemos todos juntos: Põe tua mão na mão do meu senhor....
Amén!



domingo, 10 de março de 2013

Somos todos homens na terra


Somos todos homens na terra, mas talvez não haja nem terra nem homens. Talvez um Deus nos engane. Talvez um Deus nos tenha condenado ao tempo, essa longa ilusão. 
Sonhámos a lua, o sol, as estrelas, o mar, e até os olhos que tudo isso vêem. Sonhámos o amarelo, o azul e o vermelho. Sonhámos as noites e as manhãs, o escuro e o claro; sonhámos o dia de hoje e sonharemos o dia de amanhã. Sonhámos o ponto, a linha, o volume, a perspectiva, a profundidade. 
E então talvez um Deus nos engane. Talvez comamos pedaços de nada pensando comer maçãs. Talvez sejamos nuvens de fumaça imaginando-nos homens. 
Sonhamos ter valor, mas talvez não o tenhamos. Valor, essa longa ilusão. Talvez um Deus nos engane e nos tenha condenado a essa persistência inútil.  
Só os místicos podem dizer se a vida tem valor. Mas talvez os místicos sejam também eles uma mentira. E até o Deus que nos engana, talvez nem ele próprio exista. Nem ele, nem a mentira. Se não há mentira tão pouco haverá verdade.
A Alma esté em crer que o cão é cão e que ali ao canto se encontra deitado, protegendo, acompanhando. O cão está em crer que eu sou gente e que o protejo e acompanho a ele. Dou-lhe de comer, dou-me de comer. Deito e acordo. Todos os sonhos e dias sonhados. Porque é assim que tem de ser. Mas é assim que tem de ser?
É que talvez esse Deus sejamos nós. E então num verdadeiro exercício de liberdade, só me apetece dizer: mas que grande Porra!