sábado, 13 de abril de 2013

A Uzi que há em mim

Fui inspirada pela Ana Saragoça e seu texto "A bazuca que há em mim" dirigido às redes sociais, em particular ao Facebook. Se tiverem curiosidade busquem por ele na web. É deveras engraçado.
Contudo, não quero fazer um 'copy-paste', mas sim dar, também eu, o meu parecer pessoal sobre esta complexa rede. E apontar a minha uzi, como a Ana aponta a bazuca, às coisas que mais me irritam no Facebook. (Desculpem, mas não podia escolher a bazuca, essa já é da Ana Saragoça; eu fico-me pela uzi).

Ela começa por dizer que não tem nada contra o Facebook. E eu também não.
Aliás, quem andar mais atento já deve ter percebido que me encontro online bastantes vezes.
Mas ela enumera uma série de pontos que a irritam. E em grande parte são os mesmo que me irritam a mim. Mas eu vou falar de alguns outros também e de uma forma diferente.
No entanto, sejamos claros: tanto me irrito como me regozijo. É que sem estas pequenas coisas nem teria matéria para escrever! Somos todos 'macaquinhos em jaulas' e não deixa de ser interessante observarmos-nos uns aos outros.

Eu trabalho muito a partir de casa e estar ligada ao 'mundo' através da rede é bastante confortável. Digamos que é porreiro poder mandar umas bocas a um amigo no chat; é brilhante poder falar com o meu irmão que vive no estrangeiro sem ter de gastar saldo, e é também um bom passatempo fazer scroll e ir vendo as mais frescas notícias (porque vejo pouco televisão e é no Facebook que fico a saber de quase tudo o que acontece e até mesmo aquilo que não acontece! O que é fantástico!); é bom dar umas valentes gargalhadas com determinados 'posts' (porque há quem tenha realmente muita graça) e é bom ir recebendo aqui e ali notificações sobre receitas ou sites interessantes, ler artigos de opinião, admirar obras de arte e ler citações de bons autores ou até receber uns quantos 'gostos' nalguma parrafada que eu mesma publiquei. Gosto também de ver fotos de amigos e de, às vezes, vasculhar perfis e ver com quem namora agora fulana tal ou saber onde está agora a viver sicrano, e uma data de outras coscuvilhices inofensivas (pelo menos da minha parte). Até porque se publicam, é para que seja visto, certo? Portanto também não me importo que vasculhem o meu. Tudo bem.
Não vou falar mal do Facebook enquanto plataforma, porque estaria a dar um tiro no próprio pé. Eu uso-o e bastante. E gosto.
Tudo bem.

Eu partilho da opinião da Ana, de que o Facebook é uma ferramenta útil e até lúdica, mas quando bem usada.

Sinceramente, não me chateia em absoluto que as pessoas ponham na sua informação pessoal que são casadas, solteiras, viúvas ou até que estão interessadas numa relação aberta. Até digo mais, acho 'fofinho' quando namorados usam fotos um do outro como suas próprias fotos de perfil. Ela tem a ele, ele tem a ela. A sério, acho mesmo querido! Tudo bem.
Também não me chateia em absoluto que as publicações de um amante de bicicletas sejam 90% sobre/com bicicletas. Ou que as publicações de um amante de desporto sejam 90% sobre desporto. Ou que quem tem uma paixão louca por cães e gatos passe a vida a publicar fotos dos ditos (eu sou uma dessas pessoas). Ou que aqueles que ouvem as mesmas músicas em loop acabem por publicar as mesmas músicas semana após semana. Tudo bem. A sério, tudo bem, mesmo!
Também é para o lado que durmo melhor quando alguém decide avisar a rede do que está a fazer ou a cozinhar; que partilhem sentimentos, pensamentos, opiniões... Tudo bem, é para isso que cá estamos todos.

Mas afinal quais são as coisas que me irritam no Facebook? Vou tentar não me esquecer de nenhuma.

Primeira de todas e aquela que mais azia me dá: frases atribuídas a famosos que provavelmente nunca as proferiram. E que muitas vezes são vazias de qualquer conteúdo.
Faz-me confusão: essas frases de um significado mediocre, feitas sabe-se lá por quem, que são pespegadas na fotografia de um seu suposto autor, e que pumba!, já vão na milésima partilha. É aquilo a que eu chamo de partilhinha-de-rabo-na-boca. Andas às voltas e não sai do sítio.

Há uns dias vi uma interessante com a Whitney Houston.
Claro! Morreu...! E então faz agora parte da lista de iluminados que diziam coisas magníficas. Porque quando estava viva era uma bêbeda, que por acaso tinha uma óptima voz, mas só por acaso, não é?
E a dita imagem dizia assim - "I've never dropped anyone I believed in", assinado 'Whitney Houston'. E vamos pensar que foi mesmo ela que proferiu esta frase. A verdade é que a única coisa que me veio à cabeça foi - "Well, you didn't believe in yourself much, then".

Onde está a moral da história? Não sei bem. Porque partilham isto? Também não sei bem.
Mas a frase é bonita. Pena que a primeira coisa que me tenha vindo à cabeça foi - "Mas afogaste-te numa banheira, entupida de drogas." E então que sentido faz partilharem essa citação?
Nada contra a senhora Whitney, questiono apenas a utilidade prática ou intelectual da publicação em si. A frase é bonita, mas também não me diz muito e tão pouco engrandece a suposta autora. Fico então a pensar que a pessoa que partilhou dita mensagem está a querer mostrar a alguém o que ela mesma pensa ou sente... Mas então porque usa a Whitney em vez de se usar a si mesma?

Mas esse não é o problema central. O problema é que para NÃO meu grande espanto vi mais tarde a mesma frase, só que desta vez atribuida a Marilyn Monroe.
Portanto, quem foi afinal a autora da frase? Se calhar não interessa muito quem foi, mas o engraçado é que muitos vão acreditar que foi uma delas. E o mais estranho é que ambas morreram de supostas overdoses e foi alegado, em ambos casos, suicídio. Mas, atenção, longe de mim ridicularizar as trágicas mortes das duas senhoras (que 'Deus' as tenha), apenas não me parece que sejam estas as melhores porta-vozes condutoras de frases motivadoras e sábias (ainda que a frase em questão pouco ou nada contenha de motivador ou sábio). Além de que, uma vez mais, é algo provável que não a tenham dito. Porque ora vejo a frase assinada por uma, ora passados uns dias a vejo assinada por outra... Hummm...

Daqui a nada começam a aparecer frases supostamente ditas pela Margaret Thatcher, endeusando a senhora, e esta revirar-se-à na tumba dizendo - "Bloody arseholes!", que fará bem mais o seu género.

Mas para quê falar em Whitney Houston ou Marilyn Monroe, quando temos o famoso Tupac há séculos a deambular na rede com frases como - "They got money for the war, but they can't feed the poor". Era tão boa pessoa, o miúdo, não era?
Não, não vou falar dele como compositor/interprete/rapper, porque o meu problema aqui não é o Tupac artista. E também não devia falar do Tupac enquanto pessoa, mas urge fazer uma rectificação: ele tão pouco seria 'pêra-doce' já que foi preso uma vez por alegado abuso sexual. Ah, e por falar em dinheiro e pobrezinhos, o jovem Tupac quando foi atingido encontrava-se dentro do seu humilde BMW. E sabe-se lá porque foi morto e em que tipo de coisas andaria metido.
Seja como for, quem conta um conto, acrescenta um ponto, não é assim? Se calhar não foi nada disso que aconteceu (e o rapaz tinha direito a ter um BMW, fossem lá quais fossem os seus ideais).
Mas então SE CALHAR essas frases também não são da autoria de nenhuma dessas pessoas. OU ainda que sejam, parece haver uma tendência estranhamente compassiva em relação aos mortos, porque depois de estarem mortos só damos importância ao de que bom disseram um dia, esvaziando por completo qualquer contexto.
Chiça, que irritação. Uzi nessas publicações!

Depois há umas (muitas) tiradas que me reviram igualmente o pancreas, tais como: "Ama e Amado serás, Dá e Receberás. E não julgues, mesmo aqueles que te julgarão". Porra, já estou farta destes clichés.
Vamos procurar a pólvora aqui? Eu acho que a intenção de quem partilha estas coisas só pode ser boa, mas será que esta frase faz mesmo sentido? Então se eu amar, amada serei e se der, receberei. Mas mesmo que não julgue, continuarei a correr o risco de ser julgada? Algo não está a funcionar bem aí. Esse ciclo positivismo-gera-positivismo presente nas duas primeiras afirmações é completamente chacinado pela última.
Humm...Caput. O meu cérebro deu um nó. Ou será que o Karma é realmente uma coisa deveras caprichosa?
Amigos, não, não faz sentido. E tendo em conta apenas as duas primeiras afirmações, não me parece que as coisas sejam assim tão lineares. Basta olhar os chocantes números de mulheres vítimas de violência doméstica por parte dos seus amados maridos. Elas amam, eles batem. Ou às vezes também se dá o contrário, eles amam e elas batem.
Anyway, se o karma existe, é um gajo com um 'delay' danado. Vamos pensar que o Aristides de Sousa Mendes está agora no céu a receber as melhores das regalias, porque enquanto vivo e capaz ajudou milhares de judeus a escapar a uma morte certa e cruel, mas mais tarde envelheceu e morreu na mais ignóbil das misérias. Uzi?

Adiante.... Eu posso realmente ter um péssimo feitio, mas também me irrita ver publicações de carácter motivador, mas que só nos fazem sentir ainda pior, como a que se segue - "Quem quer fazer algo arranja um meio, quem não quer arranja uma desculpa!".
Alto e pára o baile! Se não quero fazer seja o que for, é porque não quero e pronto. E para isso nem é preciso dar desculpas. É?
Mas se até queremos, por exemplo, perder 10 kgs...sim, é bom que nos esforcemos e nos foquemos, mas também é óbvio que nem sempre estamos com disposição para ir correr debaixo de chuva ou comer talos de couve e, sim, vão haver momentos em que temos de começar tudo de novo e, sim, vamos arranjando umas desculpas ou justificações, porque nem sempre estamos motivados! Mas ficamos a sentir-nos péssimos porque afinal somos é uns mandriões e arranjamos desculpas. E no final, não fazemos é nada. Mas enfim, isto é até do que menos me enerva.

Seguinte: E os pôr-do-sol e céus estrelados? E os Arco-iris? E melhor ainda, aquelas montagens que gritam "eu sou uma montagem!", mas que o pessoal partilha a achar que descobriu um paraíso na terra?
Eu acho tudo muito bonito, inclusive as montagens!! A sério que sim! Quem não gosta de um pôr-do-sol?
Mas o problema está nas afirmações associadas em rodapé como "O mundo é lindo!", apesar de se tratar de uma montagem, ou "Plutão está em entrar na casa de Aquário, Iupi!", com uma setinha a mostrar onde está Plutão e onde está a constelação de Aquário. Ou...whatevá!, porque percebo muito pouco de astrologia.
Epa, mas sim, interesso-me algo por signos e astros, acho que é um tema interessante e acho, inclusive, que há fundamentos razoáveis para continuarmos a estudá-los. Se a lua influencia as marés, é bem possível que nos influencie a nós também. Mas daí a achar que o raio de um calhau chamado Plutão, a anos luz daqui, vai mudar a minha vida ou o meu estado de espírito...ou que encerra em si todo um destino... é demais! É demasiado fatalista para meu gosto! 'Tá de sacanagem, né?
E aquelas publicações - "Aquário: Tens nas tuas mãos o dom da mudança e a visão do futuro!" - Ao que só me apetece responder - A sério? Então porquê que continuo a viver às custas da minha mãe com quase 30 anos de idade e não estou sequer, de momento, a vislumbrar futuro algum? E porquê que o Cristiano Ronaldo, que nasceu exactamente no mesmo dia que eu, é um craque da bola e eu sou péssima com uma bola nos pés?
E se por acaso faço esse tipo de comentário, logo levo com uma daquelas respostas paternalistas - "Oh minha linda, um dia hás-de entender, a verdade virá ao de cima. Tem paciência! Eu já lá estou!" - Já lá estás? Onde? Na verdade absoluta? Ou 'tás aqui e tás a levar uma sapatada?
É, há muito pessoal por aí em vias de Messias...
Nem mais comentários. Uzzzziiiiiiii!

Passando à frente.... Outra coisa que é muito banal nos dias que hoje correm nas redes sociais: publicações sobre política e economia. Sim, claro que se fala de política e de economia e deve-se falar sobre política e economia. Sim, estamos a viver uma crise sem precedentes e temos de nos armar em galifões e abrir as goelas. Mas cuidado, estimados, porque nem tudo o que anda na web é verdade.
Fico de boca-aberta com as repetidas publicações sobre os salários terrivelmente baixos em Portugal e como em todos os outros países o pessoal ganha o dobro ou o triplo.
Calma, estimados... Eu vivi em Espanha e por lá a coisa não era melhor que aqui. Mas também vivi em Inglaterra e posso garantir-vos que SE o ordenado mínimo no Reino Unido é de 1300 libras (como li algures), em nenhum dos trabalhos por onde passei ganhei sequer a metade disso. E estava inscrita nas finanças e tinha actividade aberta, e portanto as coisas estariam a ser feitas, supostamente, legalmente. Mas nunca jamais vi o tal do ordenado mínimo ser-me justamente posto na mão. Portanto, ainda que esses valores fossem os que a lei dita, nem sempre nos chegam aos bolsos, nem aqui nem noutro lado qualquer.
E temo dizer-vos que em 2011, que foi o ano que em Londres vivi, o ordenado mínimo andava à volta das 700 libras e não das 1300. E sim, é mais do que aqui! Mas tendo em conta que pagava uma renda de 600 libras e o passe do metro (para duas zonas apenas) era a módica quantia de 130 libras...façam as contas e imaginem só de onde vinha o dinheiro para comer (ai, rica mãezinha...). Uzi nessas tretas todas também.

E por falar em política, não consigo evitar falar no Miguel Gonçalves (se não sabem quem é, pesquisem). O tal do Miguel Gonçalves inebriou muita gente com os seus discursos apaixonados e cheios de motivação e foram muitos os que o aplaudiram. Mas agora que faz parte (ou fazia, já nem sei de nada) do Governo, é só ver publicações a achincalhar o jovem empreendedor.
Estimados, decidam-se: ou gostam, ou não gostam ou calem-se. Antes era um jovem super-star, cheio de carisma e honestidade, agora é um oportunista reles e mentiroso. É quase como se eu atravessasse uma estrada e de repente me tornasse noutra pessoa: do lado direito sou muita fixe, mas do outro lado já não fico tão bem.
Eu nem sei se tenho opinião sobre ele... só vos peço uma coisa: Decidam-se.
Quanto aos que já tinham uma opinião formada desde o início e continuam a pensar o mesmo, têm todo o meu respeito.
Mas por muitas pedras que haja para atirar ao Gonçalves, ao Relvas, ao Passos Coelho, ao Sócrates e a tantos outros, calma... estimados, já cansa ver tanta folia à volta das mesmas pessoas. Não que eles sejam uns anjinhos. É claro que andam a ultrapassar os limites, e eu sou tão lesada como qualquer um de vós, mas a pergunta que muitas vezes me faço é a seguinte: E vocês? Fariam melhor? E eu? Faria melhor?
Há, por acaso, um cliché do qual gosto bastante ainda que possa ser discutível como qualquer outro: a mudança começa em cada um de nós.
É que algumas das pessoas que vão para as manifestações gritar pelos seus direitos e se sentem mega insultadas pela precariedade e pela falta de escrúpulos de alguns, são as maiores sacanas que existem à face da terra no seu dia-a-dia. Eu conheço algumas. Não muitas, mas as suficientes.

Outra coisa que me tira do sério: pessoas que publicam coisas como - "Posso ter muitos defeitos, mas pelo menos não sou invejosa, intriguista nem falsa e não falo mal de ninguém como certas pessoas!".
Vamos à procura da pólvora outra vez? A menina diz que não é invejosa, nem intriguista, nem falsa e não fala mal de ninguém, mas está a atribuir todos estes defeitos às tais 'certas pessoas'.
Olha, querida, pode ficar de fora o 'invejosa' e até o 'falsa', mas acabas de fazer uma intriga e acabas de falar mal de outras pessoas, ainda que não digas os nomes. Ah, e se não dizes os nomes (porque de certeza que essa publicação é para alguém em específico), talvez tenhas também um tiquinho de falsidade. Não? Ou chamar-se-à apenas estupidez? Upsy!
Mais comicó-trágico é quando alguém publica algo como - "Tente não queixar-se de nada durante pelo menos 24 horas. Vai ver como se sente melhor!". E passados cinco minutos a mesma pessoa publica qualquer coisa como - "ai, como eu odeio que não me respondam a mensagens! Que nervos!".
Oba... temos um caso interessante de bipolaridade em 'mãos'!

Por último: mas que grande seca ter de levar com aquelas cenas - "Já sei que a maioria das pessoas não vai partilhar, mas ainda assim faço um apelo (...) por todos aqueles que morreram de cancro (...)"
Então...? Mas achas que é assim que consegues partilhas? A partir logo do princípio que já sabes que ninguém quer saber e que somos todos uns grunhos e uns brutos? Ai, assim é que não partilho mesmo...
Mas sem querer ofender ninguém, para quê partilhar velinhas, anjinhos ou lacinhos em nome de todos os que morreram de cancro? Acreditem, eu já senti na pele a perda de alguém que amava para essa mal-dita doença. Mas de que me vale a mim ou de que vos vale a vocês passar velinhas, anijinhos ou lacinhos virtuais? Já foi, já foi, já está, não voltam. Mas talvez o mal esteja só no começo, quando dizem - "Já sei que a maioria não vai partilhar...", é que entornam logo o caldo.

De resto, não me chateia que publiquem fotos em biquini (desde que saibam o que andam a fazer), nem que publiquem fotos Instagram da refeição espectacular que estão a saborear numa qualquer ilha paradisíaca. Essas coisas até dão colorido à rede. Tudo bem. Muito menos que se façam declarações de amor aos namorados(as), mães, pais, irmãos, cães... Tudo faz sentido, quando tem realmente sentido.
Evitemos apenas aquilo que não faz sentido algum. Vale? Senão... Uzi.

E mais coisas deverão existir, mas o texto já vai longo. E por acaso há outra coisa que me chateia um bocado: textos longos. É que não há paciência! Mas vá, não sejam mandriões como eu e não arranjem desculpas! ahahaha

P.S. Não foram revelados os nomes dos publicadores das 'tonterias' descritas por uma questão de respeito e sigilo, embora eles 'andem' aí. Mas também porque amanhã me vou arrepender de tudo o que escrevi e assim a culpa será menor.