terça-feira, 25 de novembro de 2014

Porque me apetece ser guru por um dia


Escrevo este texto a pedido de um amigo cujo nome não posso revelar - ligações com o governo, extorsão e fraude são alguns dos seus peculatos e razão pela qual não devo estar associada ao seu nome... - Just kidding!
Anyways, ele quer que eu fale do poder do Agora, que está muito na moda, mas na minha forma de ver as coisas.
E a minha forma de ver as coisas pode ser um bocado irritante. Mas é a minha forma de ver as coisas. Ponto. No entanto, se daqui a dez anos voltar a escrever sobre o mesmo tema, é provável que a minha opinião já tenha mudado. Apenas provável, não certamente.

Hoje em dia fala-se muito da importância de estarmos presentes no Agora. E até houve um tal de um Gustavo qualquer-coisa (figura-pública) que fez toda uma dissertação sobre o assunto dizendo algo como - "O presente é a coisa mais importante das nossas vidas, por isso mesmo se chama presente! É um presente, uma oferta, uma dádiva!" - Confesso que com esta quase verti uma lágrima, concordo com ele. Só estragou tudo quando disse que a nossa mente nos mentia e por isso se chamava 'mente'. Eu lembrei-me que em Inglês a palavra 'mente' é 'mind', assim que toda a sua razão foi pelo ralo abaixo e comecei a achá-lo irritante. Porque sendo assim apenas aos portugueses a mente...mente.

Mas, sim, eu acho que é muitíssimo importante estarmos presentes no Agora (e não me perguntem porque insisto em escrever 'Agora' com letra capital), porque é aquilo que existe no momento, neste momento. Mas não concordo que o passado ou que o futuro sejam conceitos muito distintos. Nos anos 50 Albert Einstein afirmou: "Para nós, físicos presunçosos, passado, presente e futuro são apenas ilusões". A fronteira entre o passado e o futuro é presente. E é uma fronteira móvel. A medida que o tempo vai avançando, o futuro se converte em presente e, em seguida, quase imediatamente, em passado. Os acontecimentos actuais juntam-se aos do passado e aos do futuro num ponto: todos eles são reais.

O que me apetece dizer é que não vale a pena viver no presente achando que o passado não faz parte dele. E não vale a pena viver o presente fingindo que o futuro não tem relevância. Num sentido mais prático, nós somos construções de todos os minutos e horas e dias passados, e se não tivermos em consciência que existe um futuro, nunca vamos ser responsáveis por nada.
Nem sempre é fácil, então, viver um presente 100% tranquilo devido a situações passadas que continuam a invadir o nosso pensar e agir - é normal. E também não vai ser viável termos no presente absolutamente tudo o que sempre quisemos ter porque vamos ter sempre a noção de futuro. E nessa noção de futuro, para nós seres criativos e em evolução, haverá sempre alguma coisa que falta - é normal.
O que é menos normal é não aceitar que a vida é mesmo isso.
Para quem acredita que a vida na terra é um conjunto de provações e que consoante a nossa conduta iremos dar ao paraíso ou ao inferno, isto fará todo o sentido - lidar com o passado da melhor forma no Agora e transformar o Agora como se já fosse futuro. Ser grato, basicamente.
Eu pessoalmente não tenho uma inclinação religiosa. Sou agnóstica - não acredito em nada, mas não nego qualquer possibilidade.
Mas uma coisa já tenho bastante clara - felicidade é repartida em momentos. A angústia também. Nada é eterno, tudo passa. Mas dentro dessa transformação cíclica, do bom para o mau e do mau para o bom, há uma linha condutora Espaço/Tempo que torna passado, presente e futuro em uma coisa só.
Os livros de História diziam-nos que tínhamos de conhecer o passado para melhor vivermos o presente e para construirmos um melhor futuro.  E para mim isto quer dizer que essas três palavrinhas se podem combinar numa só - Agora. E como continuamos a fazer História, vamos continuar a sofrer, a ser felizes, a amar, a viver.
Há quem reze o terço para amenizar o 'trauma' que esta sensação de continuidade nos dá, eu bebo um copo de vinho à noite.
Cheers!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aquele estranho momento entre o nascimento e a morte


É a vida, certo?
E pode bem ser apenas um momento ou uma incrível aventura cheia deles. Mas é um estranho momento porque passamos parte dela a pensar no seu significado.
Não sei o que escoa para além dela. Essa é a pergunta de todos os que se perguntam. Aqueles que não se questionam, abençoados sejam. Em vida! - porque quanto ao resto, infelizmente, não me posso pronunciar.
Oxalá fora médium! E teria respostas na ponta da língua, por mais equivocadas que fossem - pelo menos far-vos-ia viver numa bela ilusão.
Mas não sou médium. A minha mediunidade tem um perímetro muito curto e sujeitos mais vivos que eu. Alcança sons que todos ou outros ouvem, cheiros que todos os outros presenciam, desejos mundanos como ir ao frigorífico às 3h da manhã e coisas equivalentes. As velas apagam com o vento, os quadros caiem quando os pregos dão de si (quando, de facto, dão de si), a televisão apaga quando eu a apago ou quando a meretriz da MEO decide. Quando acho que estou a ver um OVNI fico em êxtase, para logo entender que se trata de um foleiro foco de luz de um night-club qualquer. Quando acho que estou a ouvir vozes estranhas ou do além, percebo que há um rádio ligado ou uma bateria de um qualquer aparelho em sofrimento....E desligo-o, tudo voltando ao normal mundano.
E quando acho que ainda saber o Avé-Maria e o Pai-Nosso de cor me daria louros... qual quê? Vejo-me apenas a debitar umas frases a um tipo um tanto fascista sem qualquer retorno de causa. Nem um 'nok-nok, who-is-there?' acontece no meu quarto. Às escuras e sem medo, porque medo tenho eu de Louvá-Deus, que são feios que doí, mas do resto não. Mas agora que penso...o bicho tem um nome curioso. Será que ele é mesmo Deus? Olha, que fosse menos asqueroso, então.
E esta falta de mediunidade dá-me raiva. É que dá-me raiva, mesmo.
Qual é a parte do meu cérebro que não está a funcionar? Qual delas está apagadinha, adormecida?
É que eu continuo, insistentemente, a acreditar na vida após a morte. Continuo, insistentemente, a acreditar no Karma e Darma. E continuo insistentemente a acreditar que nada é por acaso e que tudo tem um resposta. Por vias mais direitas, outras mais tortas, mas - uma resposta. E ando sempre à caça delas.
Decidi, portanto, que tenho um QI de 30 valores. Mais coisa menos coisa, Não vejo palmo à frente do olhos, não sinto cheiro a rosas distantes, não vislumbro aparições agraciadas. Não ouço vozes - está tudo bem, minha querida. - Não, nada.
Ou então sou uma pobre alma destinada a sofrer as perdas sem ter sequer a ilusão de uma DisneyLand distante porque assim tem de ser. E isto é um martírio. Mas será apenas para os que pensam nisso.
Já longe vão os anos em que achava que pensar (isto é, formular questões) era super fixe. Porque os que não pensam e não formulam grandes questões são realmente uns grandes afortunados. Podem até destruir metade do planeta, mas a alegria de viver ninguém lhes tira.
E fica aqui agora a questão - o que é mais importante? Viver plenamente e sem pensar em grande coisa? Ou viver questionando e buscando respostas para o quase-não-respondível? - A primeira sei que não gera tanto cancro, e com a segunda vem de um tudo quanto é mau, mas pelo menos fazemos alguma coisa pelos nossos netos - Olhem, venha o Diabo e escolha.
Do que eu já entendi da vida é que há uma coisa chamada Marketing. E não é só aqui! Acho que até as almas de outros paralelos sucumbem a ela. Se não dizes a frase certa, o slogan apropriado, está tudo lixado. O Marketing existe aqui e lá!
Deus é um gajo cheio de manhas à espera de colorido perfeito, da bebedeira transcendental (ai que isso é pecado!) ou de uma qualquer geometria à Da Vinci que quase ninguém entende ou sequer questiona, para que te diga sequer um 'Oi, tudo bem, galera?'.
É como a tirania do Design Gráfico - se o logotipo está a 3 cm da margem e devia estar a 5 cm, o projecto é chumbado. Se não dizes a Deus a palavra certa, com a entoação certa e já agora com muita humildade na causa e quiçás de joelhos caídos em pregos, também és chumbado.
Cansei, vou dormir sem esperar ver anjo algum.




segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Beleza


Neste texto vou falar do Belo. Não do belo rapaz ou do belo carro, mas sim do Belo. E como a Beleza pode ser encontrada em muitos lados, tenho de especificar - O Belo do qual falarei é o das palavras e da escrita.

Mas antes de mais tenho de admitir que há uns macaquinhos aqui a morderem-me a consciência. É que meio mundo anda preocupado e indignado (e com razão) com o que se passa na faixa de Gaza. E outro meio mundo preocupado e indignado com a crise, com novos bancos e outras aparições cómico-trágicas. E vou estar aqui eu a falar de .... escrita!?
Demasiado tarde. É que além de me apetecer muito, também não sei bem o que posso fazer em relação aos outros problemas. E sinto-me uma privilegiada por poder escrever este texto sem me sentir na eminência de explodir com um qualquer míssil cego, surdo e estúpido. E isto não foi uma piada. Portanto, vamos lá a isto.

Muitas pessoas não pensam, ou não dão importância, na Beleza que são as palavras, na Beleza de um discurso bem redigido, na Beleza de um pensamento ou emoção transformados em escrita. Há aqueles que não têm queda ou jeito, têm mais que fazer, mas são muitos mais aqueles que simplesmente se estão marimbando. A este último tipo eu costumo lançar um olhar quase de ódio. Sem misseis envolvidos, mas alguma irritação, sim!
Diz-se que a nossa língua é a nossa Pátria. Mas quem o disse, julgo eu, não se referia ao movimento 'correr-o-mais-que-podes-e-hastear-a-bandeira-para-que-a-terra-seja-tua'. Julgo eu que se referia antes ao um profundo sentimento não materialista de ser capaz de fazer falar o coração. E essa terra já é tua, sem serem necessárias bandeiras nem fronteiras, mas!, tens de cuidar dela.

Eu tenho um profundo desgosto em ser péssima a matemática. E a geometria. E a química. A sério, gostava mesmo de perceber e falar sobre essas coisas, mas não consigo. Mas posso falar de palavras. Adoro-as. E com elas vêm as vírgulas e os pontos de exclamação e interrogação, entre outros 'bonequinhos'. É extraordinário podermos fazer falar o coração. Acho que talvez tenha sido a mais brilhante criação da humanidade - a escrita.

Mas não se trata apenas de sermos capazes de exprimir pensamentos e escrevê-los. Tu não aprendes a falar e a escrever para simplesmente poderes comunicar. Eu vejo para além da utilidade prática, eu vejo Beleza. E quem não preserva essa Beleza é um bruto.
Na escola ensinam-nos que temos de aprender o alfabeto e como conjugar as letras para formarmos palavras e assim comunicarmos. Mas não acham que isto é demasiado redutor? Não é só para isso que aprendemos a conjugar letras, é também para criar Beleza.

Já me irritei mais com as novas linguagens cibernéticas ou de mensagens de telemóvel. Agora até lhes vejo alguma graça, mas desde que sejam respeitadas. Se a palavra 'mensagem', num chat ou coisa equivalente, se tornou 'msn', então preservem o tal do 'msn'. E uma nova pátria surge! Mas deixem esse planeta gravitar no eixo a que pertence. Não escrevam cartas aos namorado(as) com essas siglas manhosas.

Mas aquilo que realmente me deixa de cabelos em pé são as pessoas ditas instruídas e de berço de ouro (ou de prata, que já não é mau) assassinarem a lógica e a Beleza da escrita. Muriel Barbery diz no seu livro uma coisa bastante mórbida, mas deliciosa - "(...) Os favores da sorte têm um preço. Para quem beneficia das indulgências da vida, a obrigação da praxe na consideração da beleza não é negociável. A língua, essa riqueza do homem, e os seus usos, uma elaboração da comunidade social, são obras sagradas. Os ricos têm o dever de preservar o Belo. Senão, merecem morrer(...)"
Não, não acho que mereçam morrer. Mas a personagem que dizia estas pérolas tinha um sentido de humor bastante cortante. E com faca de talhante! Mas talvez mereçam um par de estalos.

Como disse, eu sou uma nódoa a matemática e, por conseguinte, não me meto em grandes aventuras com tudo o que envolva números. Quem não sabe escrever ou nunca percebeu que a qualquer tentativa de o fazer sai um vómito verde-tinto - devia ficar quieto. Mas como sei que é muito, muito importante continuar a publicar novos status no Facebook, então o conselho é: aprendam a escrever primeiro. Não tornem o Belo no Horrível.  

Claro está que depois há sempre uma certa liberdade à qual eu chamo de 'artística'. Há quem escreva de certa forma deliberadamente especial com um propósito. Transformam as letras em arte plástica. E isto também tem direito à vida! Mas da mesma forma que me chateiam aqueles quadros negros com a legenda 'sem título', não esperem que toda a gente vos entenda.

Para terminar - eu não sou escritora, eu apenas gosto muito disto. E não alcancei ainda a Beleza máxima. Talvez nunca consiga. Mas sonho com ela. Já é algo.


quarta-feira, 2 de abril de 2014

"Redes sociais são os piores inimigos dos desempregados"


A partir desta frase que intitula um artigo de Isabel Jonet - Presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares - sobre os malefícios das redes sociais, deu-me na gana divagar sobre a mesma.
Porque eu cá acho que o pior inimigo dos desempregados, embora seja uma teoria simplista, são os empregadores que não empregam esses mesmos desgraçados e não as redes sociais! Mas como é tão mais simples criar bodes expiatórios, não é?

Neste caso a própria Isabel Jonet, que até acredito já ter feito muita coisa positiva em prol dos outros, encontra-se numa posição favorável não só para ela mesma, mas para a criação de postos de trabalho. Mas penso que terá ficado pelo 'ela mesma'. E no entanto vem cuspir estas barbaridades.
É sabido que o Banco Alimentar tem parcerias explicitas com as empresas mais ricas do país. Se eu quiser ajudar, com um pacote de leite ou de arroz, tenho de comprar ao Belmiro. O Belmiro por sua vez é podre de rico!, mas os voluntários que angaria para irem para os supermercados abanar saquinhos de plástico no nosso nariz, não recebem nada.

Onde é que as redes sociais entram como vilãs? Eu tenho outra teoria - é que grande parte dos desempregados tem vários amigos que por acaso estão empregados, isto é, não têm tempo para ir para o café desfiar grandes conversas e, como consequência, o pessoal enfia-se na rede social virtual para poder estar em contacto com os amigos. E se isso é mau?, é. Mas pior seria ficar a falar com as paredes e perder totalmente esses contactos. Digo eu!
Mas por experiência própria sei também que quando há um grupo de amigos desempregados, estes raramente se deixam ficar a babar em cima do teclado. Pelo contrário, juntam-se mais vezes na 'vida real' porque estão todos na mesma situação de não-fazer-nenhum - Então, bora aí beber uma jola e ver o rio. - ou mesmo - bora aí entregar uns Cvs.
Mas se calhar são as pessoas que eu conheço. Se calhar tive e tenho essa sorte. Porque se calhar há mesmo quem resolva ficar a borboletear na rede social em vez de mexer a peida.
Ah! E outra coisa: também sei que muitos trabalhos, ou mesmo empregos, se encontram a partir de contactos nas redes sociais!

Mas diz Isabel Jonet que as pessoas devem é ocupar o seu tempo a procurar emprego ou a fazer voluntariado. Pois eu quero dizer a essa simpática senhora que procurar emprego neste país tornou-se quase tão obsoleto e, de certo, bem menos divertido, que estar umas horas no Facebook a dizer baboseiras.
E quanto ao voluntariado, confesso que concordo que devíamos todos fazer mais voluntariado. Mas depende do voluntariado, não é? Porque em muitas situações chegamos à conclusão que até podíamos estar a ser pagos pelo serviço que prestamos, mas não estamos. E quando descobrimos isso, é natural que mandemos a vaca pastar.
O Banco alimentar e seus inúmeros voluntários são um bom exemplo. A Jonet e o Belmiro, e mais uns quantos, devem achar que nós acreditamos mesmo que é tudo por 'amor à camisola', quando eles estão sentados em Bancos não forrados de caixinhas de leite, mas de muito dinheirinho. E que somos todos uns idiotas por não estarmos a abanar saquinhos nos supermercados.
Eu tenho a leve sensação (ironia!) que esta coisa de nos mandarem ir fazer voluntariado é o mesmo que nos atirarem areia para os olhos. Há muita coisa para fazer, sim senhora, mas também há a possibilidade de retirar um sustento desses afazeres, mas 'eles' gostam de pintar o voluntariado como algo tão nobre, mas tão nobre, que não pode envolver dinheiro (no caso do voluntário!, porque eles enchem os bolsos).

Gosto de ver as coisas deste prisma - eu faço voluntariado todos os dias - Eu cuido de dois cães, eu cozinho para mim, para a minha mãe, para o meu namorado, eu varro o chão da minha casa, dou boleia a amigos que precisem, ajudo velhinhas a carregar as compras, etc.. E chamo-lhe voluntariado porque não recebo dinheiro em troca, mas pelo menos este 'voluntariado' dá-me prazer e acrescenta alguma coisa a mim e a quem eu gosto. Ir limpar praias ou distribuir a sopinha dos pobres, sabendo que várias entidades podiam e DEVIAM encarregar-se do mesmo sem ter de explorar mão-de-obra-grátis, parece-me injusto, para não dizer ridículo.

Mas, sim, como trabalho a partir de casa (a cena tem um nome muito cool - sou freelancer), tenho o Facebook ligado a maior parte do tempo. E a Isabel pode dizer-me que eu sou uma anti-social que já não sabe viver sem a rede social. Mas eu respondo à Isabel - Fofinha, não me deram outra alternativa senão a de me tornar freelancer. E por acaso 90% dos trabalhos que arranjo são através da Internet. E estando em casa a maior parte do tempo, sim, vou vendo aqui e ali umas quantas publicações deste e daquele. Até a tua me veio cair às mãos! Olha lá, se não fosse a rede social, poderias transmitir a tua mensagem? O teu apelo? Ou whatever? É que também não te estou a ver a ir bater de porta em porta, estilo testemunha de Jeová, e espalhar a tua mensagem.

Portanto, será isto que me tornou ou nos tornou mais 'virtuais' e menos socais? Será que são as redes sociais que nos impossibilitam de termos um emprego? Estamos no Facebook porque estamos desempregados ou estamos desempregados porque estamos no Facebook? A galinha ou o ovo? Quem nasceu primeiro? E será que nos impede de termos amigos verdadeiros? E se fossem todos catar coquinhos? Assim em árvores bem altas para se esbardalharem lá de cima?

Isto faz-me lembrar aquele tipos que só sabem dizer mal das redes sociais mas que por acaso até têm uma conta. E que por acaso até vêm para o chat várias vezes meter conversa, ainda que seja para dizer - Isto é uma merda! 

Tenhamos sabedoria ou equilíbrio o suficiente para separar as águas ou o trigo do joio (qual Jesus Cristo), e tentemos todos ver as coisas más, mas também as coisas boas que advêm de qualquer tipo de serviço ou ferramenta à qual temos acesso. Se tudo for feito com peso e medida (hoje estou a escorrer em expressões idiomáticas) a rede social pode ser, sim, uma óptima tecnologia.

Isabelinha, vai fazer o jantar!, só para não te mandar para outro sitio. Até porque (e agora corro o risco de me queimar ainda mais) fiz um trabalho há três meses para um dos teus amigalhaços e até hoje não me pagaram.



quarta-feira, 19 de março de 2014

No dia do Pai: ao meu Pai.


Nunca me hei-de esquecer de quem me ensinou a andar de baloiço. Eu com medo ia dando aos pézinhos fazendo o baloiço baloiçar, mas apenas um bocadinho - Paaai, empurraaa! - e o pai empurrava, empurrava, até que deixou de empurrar e quando me dou conta já estava em perfeito balanço, sozinha, enquanto ele apenas observava - uaaau, pai, eu consigo!! - e ele sorria provavelmente pensando - Claro que consegues, tu é que acabas de vir ao mundo e não sabes que isso é apenas uma das coisas mais fáceis que tens a aprender. Aguarda e verás. - Sim, é verdade, foi afinal das coisas mais fáceis de aprender. Tantas outras que ainda tinha pela frente e não sabia. Vai-se ficando a saber.

Depois de bicicleta o mesmo esquema, o pai corria atrás empurrando e amortecendo hipotéticas quedas, até que um dia dou por mim completamente lançada e vi o meu pai sentar-se num banco e abrir o jornal, descontraído - Vá, tu sabes andar sozinha! - gritou lá do fundo. Tinha 4 anos, fiquei aterrorizada! Ia sozinha lançada sobre duas rodas! Mas em poucos segundos enchi-me de orgulho e sem rodinhas extra passei a ser a ciclista mais veloz da praça. Ou assim gostava de pensar.

Também me lembro daquela noite em que me deu uma senhora bofetada porque tinha respondido torto a qualquer coisa (a primeira e última bofetada) para logo a seguir me pegar ao colo e me embalar durante meia hora pedindo desculpas. A bofetada nem doeu assim tanto, mas ficou cheio de remorsos. Eu acabei por ficar com mais pena dele do que ele de mim - Pobre criatura, que raiva é essa que tão rapidamente se transforma em lágrimas de arrependimento? Calma, está tudo bem.

Durante anos levou-me à escola de carro todas as manhãs. Até bastante tarde. Não era por falta de transportes públicos nem por não saber usá-los. Mas ele queria levar-me! E então acordava a horas que não tinha de acordar só para me levar. Assim podiamos conversar enquanto 'comiamos' filas de trânsito.
Adorava quando me dizia que eu tinha tantos talentos que a única hipótese futura era eu tornar-me rica. Estavas tão enganado, pai, mas ainda assim, sabia bem ouvi-lo. E sabe bem recordá-lo.
Gostava quando tínhamos conversas de 'gente para gente' e não de pai para filha. Sentia o meu intelecto respeitado e tão inteligente quanto ele. Dava-me a oportunidade de falar de tudo e com ele aprendi muita coisa. Os vícios paternais de acabar as conversas com alguma espécie de moral ou crítica destrutiva ou pseudo-constructiva - porque tu és minha filha e pensas assim e eu não quero que penses assim. Porque tu és minha filha e eu quero que sejas assado - raramente acontecia. Não, eu podia falar sobre aquilo que realmente pensava e quem respondia, quem concordava ou discordava, não era o pai, mas o humano, o ser pensante.
Mas também havia muito desse pai menos racional principalmente quando me via com algum rapaz - Tu andas com aquele tipo? - Não, pai, é só um amigo - Ah, ainda bem! - Mas porquê, pai? - Porque não gosto do piercing dele! Não me digas que beijas aquilo! - Ah, não sejas mentiroso, tu não queres saber do piercing, tu estás é com ciúmes! Ahah! - Não estou nada... ora essa... humpf...! - Estava pois! 

Sabia bem acordar e ir ao escritório dele onde teclava incessantemente nas suas traduções, abraçá-lo por trás e dar-lhe festinhas na careca todas as manhãs. Não dizia nada, apenas sorria. E continuava no 'clep clep clep clep'. Sentia tanto orgulho em dizer - O meu pai sabe 6 línguas. Faz traduções de Sueco e tudo, imaginem só! - Mas continuo a repeti-lo até hoje.

Foi estranho quando me pediu desculpas por ser um pai semi-presente-semi-ausente. Nunca entendi. Sempre o senti tão presente e preocupado, nunca ausente. Talvez se referisse aos momentos em que deixava a sua mente viajar para outros mundos. Mas isso todos nós fazemos, pai. Todos nós viajamos de vez em quando para distantes paradas.

De ti herdei estes olhos pequeninos que durante muitos anos odiei. Queria-os maiores! Agora gosto deles. São iguais aos teus. Também herdei este gosto pela escrita e pela linguística, embora não ouse sequer pôr-me no mesmo patamar da tua sabedoria.
Contigo aprendi as capitais todas do mundo. Lembras-te? Quando íamos no carro e me perguntavas as capitais e eu tinha-as todas na ponta-da-língua. Hoje já me esqueci de metade...
Também gostava de discutir contigo sobre o Início dos Tempos, sobre a formação da Pangeia, ou sobre que raio era afinal essa Pangeia; sobre as religiões do mundo e sobre as mais variadas hipóteses sobre as quais um agnóstico gosta de divagar. Sobre Deus ou esse Não-Deus. 

Agradeço por me teres deixado uma carta. "Querida Anuska". Ainda hoje a tenho guardada. Certo que falaste em todos os outros membros da família nessa carta, mas foi a mim que deixaste uma carta. Foi comigo que quiseste partilhar as tuas dores mais profundas e os teus desejos para o nosso futuro. Foi comigo que quiseste falar dos teus defeitos, das coisas que mais detestavas em ti e mostrar o quanto não querias que eu te seguisse as pisadas nesses aspectos. Porque eu sou tão parecida contigo, não é? Tu sabias disso. Foi a mim que quiseste explicar o quanto era importante para ti ter o poder da escolha, entre ficar ou ir embora. E pediste perdão, mas lá seguiste com a tua teimosia que desde cedo compartilhaste - Não escolhi nascer, tenho direito a escolher quando morrer.
Perdoei a tua vontade de querer ser livre...finalmente livre. Se não te amasse tanto, teria querido que tivesses permanecido comigo, mesmo sofrendo. Mas amava-te demais para tamanho egoísmo.
Mas também senti raiva porque eras a minha coluna vertebral, a minha estante com milhares de livros, o amor da minha vida. Perdi o pai, o chão e centenas de livros quando te foste embora. E pensei que não recuperaria jamais a vontade de continuar a viver. E pensei que me tornaria tão estúpida porque havia perdido o meu melhor professor.
Mas tu sabias, pois, que eu ia conseguir continuar a baloiçar sozinha, em alta velocidade, mesmo que no início tenha sido difícil dar o primeiro balanço. Sabias que eu ia conseguir. Como soubeste sempre quando largar o meu baloiço ou a minha bicicleta e deixar-me continuar sem ti. 




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Embrace yourself...happy birthday's posts are arriving!

This one has to be in English. Sorry, mates!, but it has a purpose.

I just wanted to share my basic feelings about this 'birthday thing'. It's not very complex and probably not very interesting for the majority of you (well, those who clicked on the link probably thought it was interesting, so... this is for you).

Maybe I am not in my best shape as I am a bit drunk. But I can still write! - I always got fascinated by this - no matter how much I drink, words still flow through my fingers - but as we Portuguese say: a drunker is the most honest person. As if I could get more honest.... One day I will pay a tax for honesty! Do not let them know! (But maybe I should... to shut up a bit.)

I was already expecting Facebook messages and all those trivial stuff. And it is with a smile I read all them. But just a few really touch my heart. And you all know what I am talking about. Some are just - "well, it is this person's birthday so I should say something", but I can distinguish this type from those that are - "I really want you to feel good about yourself, I like you!".
And I am more grateful to these last ones. Not that the other ones lose their good intention, but the second version fits way better.

I had made a decision this year. To celebrate my birthday with people that had showed to care about it, even before I have said something regarding it. And in the end of the story we were just four people at mid-night making a toast. And I was born at 12.35 am (so they say...). So, it makes some sense.
And the number 'four' might sound bad... But I have to say it was the first time I received a bouquet of flowers from a friend (not counting my grandmother that always fills my house with a whole garden, I love her) and a very nice piece of Art Work. Not that material gifts are more important, but the intention behind them are.
And I got to the conclusion (again) that... less is more.

To confine yourself to a very limit number of people or friends is not good if your are just running away from people because you are scared about what they think of you or because you don't know how to deal with them. But to make a conscious decision to let things flow and see how much people really care about being with you on your birthday (mainly regarding the fact it has fallen on a Tuesday evening) might be a clever way to know who really likes to be with you and celebrate you. I know other people who would have enjoined it too, but those are far away, in other cities or countries. And I know you are reading this, you sweeties.

We are in the Era of Globalization. Everyone is in touch with everyone. We can talk in real time with China or Australia. And that's wonderful. But how many people have already felt lost in the middle of this big crowd? I have.
In one hand is wonderful and I don't want to lose nor give up on this opportunity to be 'globalizationed', but one the other hand I already know how cold it can get. How close we seem to be with each-other and how far away we actually are.
Is there anything better than a real hug? Is there anything better than everyone knowing that is mid-night before you realizing it? Is there anything better than the comfortable silence between oral-real conversation? And is there anything better than arriving home and be received by your dogs (seriously, they knew there was something special about this day) and to be 'spoiled' by them and have them surrounding you waving their tales as if Jesus Christ has arrived?
Okay, mum, I did get your text message but I am not going to wake you up. Anyway, I love you, but you don't have a tale :)

Now I have a (also) spoiled dog sleeping and purring in my bed (and she usually sleeps with my brother) and I don't want kick her out. Right now she means much more than the bouquet of flowers (and way much the wine I have drunk), she represents the holiness of love. Of course she does not now it's my birthday, the same way she does not know my name either, but somehow she felt I was vibrating a different energy and somehow she felt like staying,
I will never get married, I will have a Zoo!



sábado, 1 de fevereiro de 2014

"Eu sou genial! Ou como diriam os franceses, Je suis géniale!"


Em consequência do "discurso" de Assunção Esteves, apeteceu-me escrever isto.

Num português refinadíssimo, de tal forma que se torna quase incompreensível, terá deixado o pessoal pouco instruído completamente à nora. Porque além de parecer ter engolido um dicionário de palavras e expressões crípticas, ainda recorreu ao francês e ao inglês, não fosse ela, de facto, uma senhora muito erudita e culta!
Não tenho nada contra quem sabe francês, eu gostava de saber. Também não tenho nada contra quem abunda vocabulário variadíssimo. É sinal de sabedoria ou conhecimento. Acho eu...
Mas este tipo de discurso para um público que está a ser cada vez mais privado de uma boa educação, parece-me apenas estúpido. Oh Assunção, troca lá isso por miúdos. Ninguém te vai achar menos interessante! Se é que alguém te acha interessante...
Mas houve uma coisa que me deixou ainda mais acelerada: quando ela diz que tem medo do egoísmo.
- Do egoísmo que nos deixa, de certo modo, castrados, em termos pessoais e em termos coletivos.

Eu acho que ela foi egoísta quando decidiu transbordar palavras e figuras de estilo impercetíveis.
E mais egoísta é quando não abdica do seu salário e das não sei quantas reformas de vários dígitos em tempos de crise.

Mas enfim, nem quero falar muito da senhora, porque não a conheço pessoalmente.
Ela é apenas um exemplo dos muitos gabirus que se acham geniais e que acham que não devem nada a ninguém.
Intelectuais da tanga que estão no poleiro, que proferem citações de uns tantos escritores eruditos e mandam umas palavras em francês ou chinês.
Queria era ver-vos a fazer alguma coisa real pelo estado em que deixaram o Estado!
Ide plantar batatas e couves! Ide apanhá-las e distribuí-las! Que palavras refinadas enchem a cabeça, mas não o estomago! Ou como diria o 'outro' - Vai mas é apanhar morangos!

O egoísmo faz, de certa forma, parte de todos nós. Todos temos um ego e todos temos uma certa dose de egoísmo. Mas há quem ultrapasse os limites.
Há pouco tempo em conversa com um rapaz (que mal conheço) dizia-lhe que achava inadmissível que certas figuras que detêm mais poder e riqueza, não sentissem a necessidade ou responsabilidade de ajudar os outros. Fosse criando mais postos de trabalho e abdicando assim um pouco do seu salário que iria ser distribuído por mais pessoas, ou fosse apenas ajudando diretamente algumas famílias carenciadas. Embora saiba que há pessoas que o fazem, mas sei de muitas que não.
E a resposta do tipo foi:
- Oh Aninhas, se tu te habituasses a receber 12.000 euros por mês, também não ias querer abdicar desse dinheiro, mesmo que pusesses menos pessoal a trabalhar e os matasses de stress.

Tive vontade de esganar a criatura. Afinal até o povinho que menos tem, pensa desta forma.
Para que quero eu 12.000 euros? E quem sou eu para achar que não sou responsável pelos outros?
Eu acho que todos somos responsáveis uns pelos outros. De uma forma mais ou menos direta, mas somos.
Quando a Assunção diz "(...) tenho medo do inconseguimento, que a Europa se sinta pouca conseguida, que não seja capaz de projetar para o mundo o seu 'soft-power' sagrado, a sua mística dos direitos, a sua religião civil da dignidade humana (...)".... Okay, vamos tentar traduzir isto para português corrente: o tal do 'soft-power' sagrado imagino que se refira ao poder de influenciar os outros através da cultura e dos valores, e não através das armas. Nisso a Europa até se tem portado bem. Não foge totalmente ao seu sentido... mas falando da tal projeção da mística dos direitos civis e dignidade humana, metendo a palavra 'sagrado' pelo meio, só tenho uma pergunta a fazer:
Projetar para o mundo o quê, mesmo?
Ela ficava bem a discursar no Festival Boom.

Claro que não nos podemos queixar de muita coisa, por enquanto ainda não estamos a viver uma guerra civil como na Síria, nem sofremos de escassez de água potável. Também vivemos num país onde temos liberdade de expressão, o que é ótimo! Tanta liberdade que esta gente até pode vir para televisão dizer o que me pareceu um relato de futebol em reverse.
Mas de momento não vejo porque tem ela medo de não sermos capazes de projetar no mundo a tal dignidade dos direitos humanos, porque nem ela sabe o que é isso.
O que ela tem medo é que isso não exista, de facto, nem nunca tenha existido. Não para todos. E se não é para todos, então é uma falácia.
Lutar pela dignidade humana não é, no meu ver, distribuir umas sopinhas aos pobres, é sim dar-lhes ferramentas para que consigam eles mesmos fazer a sua sopa. Não é criar umas quantas instituições, onde deixam as pessoas ao Deus-dará, mas sim dar-lhes a conhecer o seu verdadeiro potencial e deixa-las exercê-lo! Parece-me mais importante que possamos viver realmente essa tal da dignidade civil e humana do que projetar apenas a ideia da existência de uma, quando ela não existe.
Consegues ou inconsegues perceber isso, minha querida? Ah.. e a palavra/verbo 'inconseguir'...tambem nao existe! Poupa os 'francesismos' para as tuas conversas de cafe.

Boa Tarde! Ou como diriam os franceses, bonne après-midi!