quarta-feira, 2 de abril de 2014

"Redes sociais são os piores inimigos dos desempregados"


A partir desta frase que intitula um artigo de Isabel Jonet - Presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares - sobre os malefícios das redes sociais, deu-me na gana divagar sobre a mesma.
Porque eu cá acho que o pior inimigo dos desempregados, embora seja uma teoria simplista, são os empregadores que não empregam esses mesmos desgraçados e não as redes sociais! Mas como é tão mais simples criar bodes expiatórios, não é?

Neste caso a própria Isabel Jonet, que até acredito já ter feito muita coisa positiva em prol dos outros, encontra-se numa posição favorável não só para ela mesma, mas para a criação de postos de trabalho. Mas penso que terá ficado pelo 'ela mesma'. E no entanto vem cuspir estas barbaridades.
É sabido que o Banco Alimentar tem parcerias explicitas com as empresas mais ricas do país. Se eu quiser ajudar, com um pacote de leite ou de arroz, tenho de comprar ao Belmiro. O Belmiro por sua vez é podre de rico!, mas os voluntários que angaria para irem para os supermercados abanar saquinhos de plástico no nosso nariz, não recebem nada.

Onde é que as redes sociais entram como vilãs? Eu tenho outra teoria - é que grande parte dos desempregados tem vários amigos que por acaso estão empregados, isto é, não têm tempo para ir para o café desfiar grandes conversas e, como consequência, o pessoal enfia-se na rede social virtual para poder estar em contacto com os amigos. E se isso é mau?, é. Mas pior seria ficar a falar com as paredes e perder totalmente esses contactos. Digo eu!
Mas por experiência própria sei também que quando há um grupo de amigos desempregados, estes raramente se deixam ficar a babar em cima do teclado. Pelo contrário, juntam-se mais vezes na 'vida real' porque estão todos na mesma situação de não-fazer-nenhum - Então, bora aí beber uma jola e ver o rio. - ou mesmo - bora aí entregar uns Cvs.
Mas se calhar são as pessoas que eu conheço. Se calhar tive e tenho essa sorte. Porque se calhar há mesmo quem resolva ficar a borboletear na rede social em vez de mexer a peida.
Ah! E outra coisa: também sei que muitos trabalhos, ou mesmo empregos, se encontram a partir de contactos nas redes sociais!

Mas diz Isabel Jonet que as pessoas devem é ocupar o seu tempo a procurar emprego ou a fazer voluntariado. Pois eu quero dizer a essa simpática senhora que procurar emprego neste país tornou-se quase tão obsoleto e, de certo, bem menos divertido, que estar umas horas no Facebook a dizer baboseiras.
E quanto ao voluntariado, confesso que concordo que devíamos todos fazer mais voluntariado. Mas depende do voluntariado, não é? Porque em muitas situações chegamos à conclusão que até podíamos estar a ser pagos pelo serviço que prestamos, mas não estamos. E quando descobrimos isso, é natural que mandemos a vaca pastar.
O Banco alimentar e seus inúmeros voluntários são um bom exemplo. A Jonet e o Belmiro, e mais uns quantos, devem achar que nós acreditamos mesmo que é tudo por 'amor à camisola', quando eles estão sentados em Bancos não forrados de caixinhas de leite, mas de muito dinheirinho. E que somos todos uns idiotas por não estarmos a abanar saquinhos nos supermercados.
Eu tenho a leve sensação (ironia!) que esta coisa de nos mandarem ir fazer voluntariado é o mesmo que nos atirarem areia para os olhos. Há muita coisa para fazer, sim senhora, mas também há a possibilidade de retirar um sustento desses afazeres, mas 'eles' gostam de pintar o voluntariado como algo tão nobre, mas tão nobre, que não pode envolver dinheiro (no caso do voluntário!, porque eles enchem os bolsos).

Gosto de ver as coisas deste prisma - eu faço voluntariado todos os dias - Eu cuido de dois cães, eu cozinho para mim, para a minha mãe, para o meu namorado, eu varro o chão da minha casa, dou boleia a amigos que precisem, ajudo velhinhas a carregar as compras, etc.. E chamo-lhe voluntariado porque não recebo dinheiro em troca, mas pelo menos este 'voluntariado' dá-me prazer e acrescenta alguma coisa a mim e a quem eu gosto. Ir limpar praias ou distribuir a sopinha dos pobres, sabendo que várias entidades podiam e DEVIAM encarregar-se do mesmo sem ter de explorar mão-de-obra-grátis, parece-me injusto, para não dizer ridículo.

Mas, sim, como trabalho a partir de casa (a cena tem um nome muito cool - sou freelancer), tenho o Facebook ligado a maior parte do tempo. E a Isabel pode dizer-me que eu sou uma anti-social que já não sabe viver sem a rede social. Mas eu respondo à Isabel - Fofinha, não me deram outra alternativa senão a de me tornar freelancer. E por acaso 90% dos trabalhos que arranjo são através da Internet. E estando em casa a maior parte do tempo, sim, vou vendo aqui e ali umas quantas publicações deste e daquele. Até a tua me veio cair às mãos! Olha lá, se não fosse a rede social, poderias transmitir a tua mensagem? O teu apelo? Ou whatever? É que também não te estou a ver a ir bater de porta em porta, estilo testemunha de Jeová, e espalhar a tua mensagem.

Portanto, será isto que me tornou ou nos tornou mais 'virtuais' e menos socais? Será que são as redes sociais que nos impossibilitam de termos um emprego? Estamos no Facebook porque estamos desempregados ou estamos desempregados porque estamos no Facebook? A galinha ou o ovo? Quem nasceu primeiro? E será que nos impede de termos amigos verdadeiros? E se fossem todos catar coquinhos? Assim em árvores bem altas para se esbardalharem lá de cima?

Isto faz-me lembrar aquele tipos que só sabem dizer mal das redes sociais mas que por acaso até têm uma conta. E que por acaso até vêm para o chat várias vezes meter conversa, ainda que seja para dizer - Isto é uma merda! 

Tenhamos sabedoria ou equilíbrio o suficiente para separar as águas ou o trigo do joio (qual Jesus Cristo), e tentemos todos ver as coisas más, mas também as coisas boas que advêm de qualquer tipo de serviço ou ferramenta à qual temos acesso. Se tudo for feito com peso e medida (hoje estou a escorrer em expressões idiomáticas) a rede social pode ser, sim, uma óptima tecnologia.

Isabelinha, vai fazer o jantar!, só para não te mandar para outro sitio. Até porque (e agora corro o risco de me queimar ainda mais) fiz um trabalho há três meses para um dos teus amigalhaços e até hoje não me pagaram.



1 comentário:

  1. Gostei muito Ana.Estas caças às bruxas que de vez em quando assomam nos rebordos dos nossos ecrãs lembram-me sempre a descrição do impacto dos primeiros telefones na América do norte rural.Era um objecto do demo aquele que entrava nas casas e permitia a comunicação a grande distância.Escapa a esta gente que os instrumentos são isso mesmo,instrumentos.Falando concretamente no assunto Facebook e na Exma Isabel Jonet e suas declarações,subscrevo as tuas conclusões e se me permites à boleia das mesmas acrescento que antes no Facebook que na tasca.Essa venerável Instituição Portuguesa é também ela um instrumento poderia advogar Isabel Jonet,aproveitando assim as minhas afirmações prévias.Mas cara Isabel Jonet tem toda a razão.Aliás o que seria de si sem as tascas?O flagelo do alcoolismo que é transversal na nossa sociedade não apoquenta esta benemérita gente?Combater a raiz do mal não interessa pois corre-se o risco de o erradicar e depois como se faz a caridadezinha?A tal areia de que falas Ana é uma praia imensa de interesses.O Facebook?Falem bem,falem mal mas falem diria provavelmente. Zuckerberg

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