terça-feira, 25 de novembro de 2014

Porque me apetece ser guru por um dia


Escrevo este texto a pedido de um amigo cujo nome não posso revelar - ligações com o governo, extorsão e fraude são alguns dos seus peculatos e razão pela qual não devo estar associada ao seu nome... - Just kidding!
Anyways, ele quer que eu fale do poder do Agora, que está muito na moda, mas na minha forma de ver as coisas.
E a minha forma de ver as coisas pode ser um bocado irritante. Mas é a minha forma de ver as coisas. Ponto. No entanto, se daqui a dez anos voltar a escrever sobre o mesmo tema, é provável que a minha opinião já tenha mudado. Apenas provável, não certamente.

Hoje em dia fala-se muito da importância de estarmos presentes no Agora. E até houve um tal de um Gustavo qualquer-coisa (figura-pública) que fez toda uma dissertação sobre o assunto dizendo algo como - "O presente é a coisa mais importante das nossas vidas, por isso mesmo se chama presente! É um presente, uma oferta, uma dádiva!" - Confesso que com esta quase verti uma lágrima, concordo com ele. Só estragou tudo quando disse que a nossa mente nos mentia e por isso se chamava 'mente'. Eu lembrei-me que em Inglês a palavra 'mente' é 'mind', assim que toda a sua razão foi pelo ralo abaixo e comecei a achá-lo irritante. Porque sendo assim apenas aos portugueses a mente...mente.

Mas, sim, eu acho que é muitíssimo importante estarmos presentes no Agora (e não me perguntem porque insisto em escrever 'Agora' com letra capital), porque é aquilo que existe no momento, neste momento. Mas não concordo que o passado ou que o futuro sejam conceitos muito distintos. Nos anos 50 Albert Einstein afirmou: "Para nós, físicos presunçosos, passado, presente e futuro são apenas ilusões". A fronteira entre o passado e o futuro é presente. E é uma fronteira móvel. A medida que o tempo vai avançando, o futuro se converte em presente e, em seguida, quase imediatamente, em passado. Os acontecimentos actuais juntam-se aos do passado e aos do futuro num ponto: todos eles são reais.

O que me apetece dizer é que não vale a pena viver no presente achando que o passado não faz parte dele. E não vale a pena viver o presente fingindo que o futuro não tem relevância. Num sentido mais prático, nós somos construções de todos os minutos e horas e dias passados, e se não tivermos em consciência que existe um futuro, nunca vamos ser responsáveis por nada.
Nem sempre é fácil, então, viver um presente 100% tranquilo devido a situações passadas que continuam a invadir o nosso pensar e agir - é normal. E também não vai ser viável termos no presente absolutamente tudo o que sempre quisemos ter porque vamos ter sempre a noção de futuro. E nessa noção de futuro, para nós seres criativos e em evolução, haverá sempre alguma coisa que falta - é normal.
O que é menos normal é não aceitar que a vida é mesmo isso.
Para quem acredita que a vida na terra é um conjunto de provações e que consoante a nossa conduta iremos dar ao paraíso ou ao inferno, isto fará todo o sentido - lidar com o passado da melhor forma no Agora e transformar o Agora como se já fosse futuro. Ser grato, basicamente.
Eu pessoalmente não tenho uma inclinação religiosa. Sou agnóstica - não acredito em nada, mas não nego qualquer possibilidade.
Mas uma coisa já tenho bastante clara - felicidade é repartida em momentos. A angústia também. Nada é eterno, tudo passa. Mas dentro dessa transformação cíclica, do bom para o mau e do mau para o bom, há uma linha condutora Espaço/Tempo que torna passado, presente e futuro em uma coisa só.
Os livros de História diziam-nos que tínhamos de conhecer o passado para melhor vivermos o presente e para construirmos um melhor futuro.  E para mim isto quer dizer que essas três palavrinhas se podem combinar numa só - Agora. E como continuamos a fazer História, vamos continuar a sofrer, a ser felizes, a amar, a viver.
Há quem reze o terço para amenizar o 'trauma' que esta sensação de continuidade nos dá, eu bebo um copo de vinho à noite.
Cheers!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aquele estranho momento entre o nascimento e a morte


É a vida, certo?
E pode bem ser apenas um momento ou uma incrível aventura cheia deles. Mas é um estranho momento porque passamos parte dela a pensar no seu significado.
Não sei o que escoa para além dela. Essa é a pergunta de todos os que se perguntam. Aqueles que não se questionam, abençoados sejam. Em vida! - porque quanto ao resto, infelizmente, não me posso pronunciar.
Oxalá fora médium! E teria respostas na ponta da língua, por mais equivocadas que fossem - pelo menos far-vos-ia viver numa bela ilusão.
Mas não sou médium. A minha mediunidade tem um perímetro muito curto e sujeitos mais vivos que eu. Alcança sons que todos ou outros ouvem, cheiros que todos os outros presenciam, desejos mundanos como ir ao frigorífico às 3h da manhã e coisas equivalentes. As velas apagam com o vento, os quadros caiem quando os pregos dão de si (quando, de facto, dão de si), a televisão apaga quando eu a apago ou quando a meretriz da MEO decide. Quando acho que estou a ver um OVNI fico em êxtase, para logo entender que se trata de um foleiro foco de luz de um night-club qualquer. Quando acho que estou a ouvir vozes estranhas ou do além, percebo que há um rádio ligado ou uma bateria de um qualquer aparelho em sofrimento....E desligo-o, tudo voltando ao normal mundano.
E quando acho que ainda saber o Avé-Maria e o Pai-Nosso de cor me daria louros... qual quê? Vejo-me apenas a debitar umas frases a um tipo um tanto fascista sem qualquer retorno de causa. Nem um 'nok-nok, who-is-there?' acontece no meu quarto. Às escuras e sem medo, porque medo tenho eu de Louvá-Deus, que são feios que doí, mas do resto não. Mas agora que penso...o bicho tem um nome curioso. Será que ele é mesmo Deus? Olha, que fosse menos asqueroso, então.
E esta falta de mediunidade dá-me raiva. É que dá-me raiva, mesmo.
Qual é a parte do meu cérebro que não está a funcionar? Qual delas está apagadinha, adormecida?
É que eu continuo, insistentemente, a acreditar na vida após a morte. Continuo, insistentemente, a acreditar no Karma e Darma. E continuo insistentemente a acreditar que nada é por acaso e que tudo tem um resposta. Por vias mais direitas, outras mais tortas, mas - uma resposta. E ando sempre à caça delas.
Decidi, portanto, que tenho um QI de 30 valores. Mais coisa menos coisa, Não vejo palmo à frente do olhos, não sinto cheiro a rosas distantes, não vislumbro aparições agraciadas. Não ouço vozes - está tudo bem, minha querida. - Não, nada.
Ou então sou uma pobre alma destinada a sofrer as perdas sem ter sequer a ilusão de uma DisneyLand distante porque assim tem de ser. E isto é um martírio. Mas será apenas para os que pensam nisso.
Já longe vão os anos em que achava que pensar (isto é, formular questões) era super fixe. Porque os que não pensam e não formulam grandes questões são realmente uns grandes afortunados. Podem até destruir metade do planeta, mas a alegria de viver ninguém lhes tira.
E fica aqui agora a questão - o que é mais importante? Viver plenamente e sem pensar em grande coisa? Ou viver questionando e buscando respostas para o quase-não-respondível? - A primeira sei que não gera tanto cancro, e com a segunda vem de um tudo quanto é mau, mas pelo menos fazemos alguma coisa pelos nossos netos - Olhem, venha o Diabo e escolha.
Do que eu já entendi da vida é que há uma coisa chamada Marketing. E não é só aqui! Acho que até as almas de outros paralelos sucumbem a ela. Se não dizes a frase certa, o slogan apropriado, está tudo lixado. O Marketing existe aqui e lá!
Deus é um gajo cheio de manhas à espera de colorido perfeito, da bebedeira transcendental (ai que isso é pecado!) ou de uma qualquer geometria à Da Vinci que quase ninguém entende ou sequer questiona, para que te diga sequer um 'Oi, tudo bem, galera?'.
É como a tirania do Design Gráfico - se o logotipo está a 3 cm da margem e devia estar a 5 cm, o projecto é chumbado. Se não dizes a Deus a palavra certa, com a entoação certa e já agora com muita humildade na causa e quiçás de joelhos caídos em pregos, também és chumbado.
Cansei, vou dormir sem esperar ver anjo algum.