quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Perspectivas

As várias ideias que surgem de uma mesma coisa:

- Sou portuguesa e estou na apanha do morango.

1 espanhol
- Pois, Espanha e Portugal estão a passar por momentos terríveis.. agora precisamos de nos adaptar a novas carreiras! Como apanhar morangos, não é?
Agora que estamos ambos na merda, já vos podemos tratar como iguais, ora dá cá um abraço! E desculpa lá aquela cena dos Filipes e das invasões... o pessoal estava aborrecido.. foi só uma brincadeira, pa.

1 francês
- Portuguesa? A minha porteira é portuguesa. Mas agora tenho de ir ali... enfiar-me no meu quarto durante horas e não falar com ninguém. Ah, e essa loiça toda que eu usei, não fui eu que sujei. 'Tá? E se ficares sem sinal de internet durante várias horas, a culpa também não é minha.. não sei o que se passa, só o meu computador o apanha. Au revoir!

1 alemão
-  A apanha do morango requer uma técnica especial e um treino intensivo até se conseguir uma boa colheita. Mas vocês latinos são uns preguiçosos. Não admira que estejam como estão. Desordeiros! Diz-me lá, quantas vezes passaste à frente de alguém na fila para a casa-de-banho? Inadmissível!

1 Inglês
- Ooohhh, eu adoro Portugal! Albufeira! Albufeira! Wow, such a nice place, had so much fun... Love it!
É a capital, não é? E morangos!? Morangosca! Love it!

1 bulgaro
- 'Tá bem, mas não penses que vens p'raqui roubar vagas de trabalho aos meus primos. Aliás, estão 20 a caminho.

1 romeno
- Quanto é que se ganha lá em Portugal? E quanto pagas de renda? Tens mãe? Ah, e falam espanhol, não é? Achas que dá para entrar sem visto? Ah, e já agora... olha só ali pró céu, 'tá tão bonito... é porque por acaso eu estava interessado em ver o que tinhas nos bolsos.

1 brasileiro
- Que legaaaal! Meu tetravô era português, de Trás-os-Montes, e ele apanhava batatas! Muito legal, isso, velho, a gente se conectando com a terra... com a graça de Jesus.. E Nossa Senhora de Fátima.

1 marroquino
- És portuguesa e então? Lá porque eu sou marroquino, não quer dizer que sejas melhor que eu! Tão sempre a tentar por-nos para baixo! Olha, olha, lá porque sou marroquino... e então? E ..e...e... é só gays... nesses vossos paises! Onde já se viu isso?! E..e ...e.. a apanha do morango.. pois, é porque andam a por-se a jeito, é o que é! Heresias!

1 russo
- Vodka?

1 americano
- Não faço ideia onde fica o teu país. E como é isso de apanhar morangos? Vais ao supermercado e apanhas o que lá houver?

(qualquer parágrafo contido neste texto é pura ficção e sem intenção de ferir susceptibilidades.)

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Posso fazer alguma coisa para ajudar?

Não.

Há precisamente nove Agostos atrás soube que a definição de 'garantia' só se aplica à morte. Só ela está garantida. Garante-se a si mesma, mas tão pouco nos diz quando chega. Só se sabe que chega.
Dar por garantida a vida e os anos que nos aguardam é um sonho. Dar por garantida a companhia de quem gostamos até ao nosso próprio termo final é um sonho.

Há nove anos atrás também soube que aquilo que albergamos no coração é, muitas vezes, maior ainda do que pensavamos que fosse. Amor. Tão grande. 
- Vá lá, eu até prefiro nunca mais te ver, mas saber-te vivo e feliz. Vá lá, sobrevive, vive. Apenas isso.
Quero que vás para bem longe, que vás para a Austrália!, que nos zanguemos, que deixemos de falar, que se azede a nossa amizade. Não quero saber. Vá lá, sobrevive, vive. Apenas isso. Saber-te vivo e feliz... Apenas isso. 

Soube também que afinal ainda sabia rezar as Avé Marias e os Pais Nossos todos. Descobri que na situação mais extrema, de pânico e dor, qualquer ateu vira crente. Que qualquer besta vira mansa. Que tudo o que valorizamos, deixa de ter valor. E tudo o que desvalorizamos, ganha um valor imenso.

Que raio é isto? De ter de te ver desacordado, ligado a uma máquina para respirares, essa máquina que não são os teus pulmões, essa máquina que não é mais o teu coração? Onde estás? 

Soube também que o mundo desaparece. O mundo que conhecemos desaparece. Uma construção que implode. As pessoas que estão à nossa volta tornam-se invisíveis, os sons tornam-se mudos, as cores tornam-se turvas. O tempo estanca. O espaço... nem sei se existe. 
Mas que o coração que bate, tão forte, ele sim é real. E queremos arrancá-lo. 
Tê-lo-ia arrancado e tê-lo-ia dado a ti. 

Como se pode ser tão generoso, afinal? Eu ter-te-ia dado o meu coração, para que vivesses, mas depois ficava eu sem ele. Não faz sentido. Então depois eu não já não viveria mais e não poderia ver-te viver outra vez...
Mas não se pensa nisso, não há lógica nem razão no amor. É talvez a coisa mais ilógica de sempre, mas a única coisa que nos sustém.

Porém...talvez a morte não seja uma coisa triste. Somos nós que valorizamos demais a vida. Porque não conhecemos outros limites fora deste quadrado. 

Passados nove anos, saltam imagens de coisas que fizemos, aparecem conversas que tivemos e até as que não tivemos. Recrio momentos que nunca aconteceram, entre aqueles que realmente aconteceram.
Acho que ainda me lembro da tua voz, mas não tenho a certeza. Acho que sei como serias hoje, mas também não sei ao certo. Talvez tivesses mesmo ido para a Austrália e talvez nunca mais nos tivessemos falado. 
Não sei porquê desejei que fosses para a Austrália e que nunca mais nos tivessemos falado. Talvez fosse a penitência que eu estaria disposta a pagar como troca, pela tua vida de volta.

Mas gosto de pensar que continuariamos a ser tão amigos como sempre fomos, que continuaríamos a ir ao cinema à meia-noite, que conversariamos sobre livros e filmes, que falariamos sobre as tuas namoradas e sobre os meus namorados. E que, invariavelmente, me continuarias a roubar o comando da televisão e a deixar a casa-de-banho inundada após cada banho teu. E que, sim, as latas de atum eram todas tuas e mais ninguém devia tocar nelas!

Ainda sonho contigo a brincar com os meus filhos. Filhos esses que nem existem. Mas continuo a imaginar como serias como tio. Ainda continuo a imaginar-te com 50 anos e a imaginar-me a mim com 44, a conversar num alpendre, sobre as estrelas.
E então talvez ainda vivas. Porque a cada memória e a cada imagem imaginada, te tornas real.
Passados nove anos, não pesa mais a tua ausência. Acostumamo-nos a ela. Também já não pesa a memória d'aquele dia. Ele é apenas uma referência, de algo que aconteceu, mas que ficou para trás.
Passados nove anos, a única coisa que pesa é saber que a cada dia que passa, o amor se vai apagando, a emoção ficando aguada, e que o coração que eu te teria dado naquele momento... já aprendeu a viver sem ti. 

Ao meu irmão Filipe Luelmo 





   

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

And what if...

And what if...we could go back in time and change small things? Or even big ones?
My more-mature side has chosen the day I gave the car keys to my brother. Anyway, I am not going to explain the whole story. Half-word is enough. I would have changed that day, I wouldn't have given him those keys.
Second: not so serious, but serious enough, I also have to choose the day I started drinking coca-cola, getting addicted to it. I shouldn't have tried it. Because, Yeah, I am 'cocacoholic', but not very anonymous. I know how much my palate likes it, I am just not so sure about my veins and blood pressure.
And now my more primitive side... I also pick a specific day, when a particular guy, whose the name should not be pronounced, was very arrogant-obnoxious-meanfull-arsehole towards me and instead of breaking his teeth, I acted very maturely just turning my back to him. Oh dear, he was so deserving to lose them. I would love so much to go back and do it! But come here, little boy, we can still 'fix' that! You would be teeth-less but surely more wise now! So you can actually consider it as a gift!

And what if.. we could say, for one day, everything that is stuck in our throats? Without consequences...
Okay, I am going to say it now, so.. there will be consequences, right? Hope not..
My more-serious side would say to the rich people of this country - "What the fuck is wrong with you, guys? Maybe you can not provide jobs to everyone, but you could buy houses to thousands of families that are struggling to pay their fucking rents and barely have food to eat, while you just collect Ferraris in your stupid garage!".
...Well, this is serious...or is it not? I am confused now.
I would also say to this strange-awkward man that sends me cryptic messages every day trying to set a date: "Look, I don't hate you...yet... but you really annoy me. You are such a retarded. I am so sorry, it is not your fault to be a retarded, but it is your fault if you keep annoying me. You are ugly, you stink, you don't even know how to pronounce your own name without stammering. You are 40 and you sound 12. Why would I want to have a date with you? Move on".
But this is so mean that I obviously can not do it for real.
And one more thing. I really wanted to say to these people that make little jokes about me having two dogs, one very big and one very small, that "NO, I am not going to sell you my Spitz, are you fucking nuts? She belongs to the family. That would be abandoning! And what's wrong about the big one? Why don't you try to buy it, too? Because she's too big and you obviously can not handle it? Or is it because it's not so posh? Buy a brain instead!"

And what if... we could do something very radical without running risk of life?
So many things....
I absolutely would drive 200km/h down to Africa, with my two dogs, find a desert (near an oasis) and sleep there for a couple of nights. They would be unleash, they would run like crazy, so as me.
I would swim with whales. I would play with lions. I would jump from cliffs into the ocean. I would climb trees and make friendships with wild monkeys. And all this 'washed down' with red wine.
Just trying to figure out where would be my dogs in meanwhile... well, it doesn't matter... I would find them again, happily tired, because this would be a win-win situation anyway.

And what if... we could say to our friends everything that crosses our mind? Some friends do it and nothing happens, I guess... but it is very rare.
I would say how boring it is when they drag their boyfriends/girlfriends along with them when you just want one night out without those supplements!
I would say as well - "Girl, just stop combing your hair every five minutes, right now! You look like a fool superficial maniac girl. Oh, sorry, you are that...actually!...And...My bag? What's wrong with my bag? Oh, it doesn't match my shoes... that's a sad sad situation, but not as much as your poor poor brain.'
Okay, I have just lost ...errrr... 3 friends right now. UPSY!

And what if .... men could actually understand that they are equally complicated as we are?
That would be the end of the modern world.

And what if... facebook didn't exist??
Ohhhh my GOOODDD.......
Well, something special would happen, I reckon.. I lived without it many years. And I was happier back in those times.
But Chinese don't have it and...still... they are mad as hell!!!
(oh Lord, now I am in a big trouble)

And what if... ?