O condutor percorria, ligeiro, em cuidados com as lombas e senteças sinalizadas, a rua que eu sempre conhecera, sem mais novidades ou somas, igual ao que sempre fora.
- A minha casa é lá bem à frente ainda.
- De acordo, menina - palitou o taxista.
Uma viagem pelo corredor da minha infância e adolescência, calhau a calhau, arbusto por arbusto, e os metros se foram fazendo quilometros, e os minutos estanques.
Lá fora, no escuro dos candeeiros amarelos, eu me imaginava outra vez andando, com os grilos grilando e os prédios num ressono profundo, e pensei "Eu nunca realmente d'aqui saí".
De volta à mesma rua e ao encontro do que dali nunca saíra, mas que há muitos anos tão pouco presente realmente esteve, vi-me num círculo, cuja ponta é o ínicio da outra. E pela primeira vez, em muito tempo, a sensação de voltar a casa e ao ciclo redondo, me despertou enorme consolação. "Estes calhaus são meus, aqueles arbustos além também, todos os outros, de outras paragens, nunca o foram. A estes eu volto, o trilho dos outros já nem conheço, não deu tempo memorizá-los no coração."