Tenho vontade de processar o Walt Disney. Pena que o senhor já tenha morrido e nao possa ir a tribunal.
O problema é o seguinte: houve geraçoes inteiras a crescer com demasiadas fantasias. A minha ainda foi uma delas. Talvez pertença à última geraçao ingénua, mas nao tenho especial orgulho nisso. Acho que as crianças deviam ser ensinadas desde cedo a ver a realidade. E isso nao tem nada de infeliz, se a realidade for demonstrada como sendo uma coisa boa. As crianças podem continuar a ser crianças, mas pelo menos já estao mais alerta da realidade, porque rápido o contos de fadas se tornam em contos de bruxas porque crescemos demasiado dependentes da ficçao, e a ficcao é, como o próprio nome indica, ficçao. A sinceridade tornar-nos-ia a todos mais preparados para viver a vida em pleno, se desde um princípio fossemos instigados a conhecer a verdade, a saber lidar com ela e a sermos felizes incondicionalmente.
Comecemos pela demonstraçao de que todos esperamos pelo grande amor. As mil e uma histórias que nos contam o encontro afortunado de dois seres que se apaixonam têm o seu quê de mágico, e é uma mensagem válida, boa e bonita. Mas nao é totalmente honesta. Acredito que existam várias pessoas especiais e nao apenas uma. Nao acho no entanto que devessemos descartar-nos de uma pessoa sempre que nos fartamos dela para ir a correr atrás de outra nova, mas as relaçoes seriam todas mais facéis se nao houvesse tanto o sentimento intrínseco de obrigatoriedade, porque o 'para sempre' acaba por assustar. Se nao houvesse essa cultura do 'para sempre', acredito que as coisas até seriam, efectivamente, mais duradouras. Acredito que estariamos todos mais preparados para dar e receber amor.
Mais importante que isso, devia ensinar-nos, em primeiro lugar, a sermos felizes conosco próprios e nao a estar incessantemente na busca do príncipe encantado, ainda que haja à mistura uma vontade natural e fisiológica de procurar um par. Mas se nao soubermos ser felizes sozinhos, acredito que ninguém será feliz, mesmo ao lado da 'alma gémea'...
A cereja no topo do bolo é, claro está, o "e viveram felizes para sempre", porque depois o Walt Disney nunca mostra a realidade do dia-a-dia desse casal. Pressupomos entao que tudo será perfeito, nao haverá discussoes, nao haverá duvidas, nao haverá tristezas nem dias menos bons, porque eles vivem sempre felizes para sempre. Pressupomos tambem que nunca existem separaçoes, e que a separaçao é completa e inequivocamente um erro crasso.
É por essas e por outras que há tantas crianças a sofrer com o divórcio dos pais. Mesmo que os pais vivam uma separaçao saudavel e nunca deixem de dar atençao aos filhos, já houve uma quebra quase irrecuperável na cabeça infantil e formatada pelo "e viveram felizes para sempre". O pior mesmo é que sao raras as separaçoes saudaveis, porque os próprios pais nao sabem lidar com a imperfeiçao.
Vivemos obsecados com a ideia da perfeiçao, chateamo-nos facilmente com coisas sem importância, nao aprendemos a olhar o outro como uma parte de nós mesmos. Vivemos também obsecados com a ideia de que o eterno e permanente só existe com um casamento. Quando, na realidade, após conhecer uma pessoa e viver com ela momentos de terna alegria, o mais certo é que essa pessoa permaneça na nossa vida para sempre, independentemente de estarmos casados ou nao com ela, independentemente de termos, entretanto, encontrado um novo amor. Acredito profundamente que ninguém substitui ninguém.
No entanto, graças ou nao ao Walt Disney, tenho a tentaçao de dizer: o amor é bonito. Duas pessoas juntas formam um todo mais coeso. Mas ninguem é perfeito. A perfeiçao está nas nossas intençoes de sermos felizes e fazer alguem feliz, mesmo nos dias de chuva.
P.S. após ler o meu texto outra vez deparei-me com uma serie de erros que entretanto já corrigi. O castelhano está, sem dúvida, a atrapalhar o meu português. eheh
Esqueçamos os erros!
ResponderEliminarTambém li o texto e, com muito zen, quero partilhá-lo e deixar o meu pensamento: A palavra"pessoa" deriva do latim "persona" e do grego "présopon" sustentada e veiculada através da cultura grega como "disfarces teatrais" e por isso associada ao "actor". Assim sendo, pessoa é a máscara que o actor coloca no rosto. O conceito alargou-se com o cristianismo, e ser "pessoa", passou a ser "dispôr de si ou "ter posse do que se é e estar disponível para os outros".É interessante perceber o conceito desta dinâmica que nos possiblita dizer que gostamos mais de estar com uns do que com outros.
Eu arriscaria dizer que a vida é assim...uma busca constante de outra pessoa, de uma terceira pessoa que há em cada um de nós.
A grande dificuldade é idealizar formas de conduta gerais aplicáveis com sucesso a casos individuais.Acredito que em última instância voluntária ou involuntariamente compete a cada um encontrar respostas para questões de contornos generalistas mas sempre tão complexas quando se tornam pessoais.Pessoas com percursos diferentes podem partilhar conceitos iguais mas a forma de os adquirirem é ditada pelas suas diferenças enquanto indivíduos. Concordo inteiramente com a tua conclusão.
ResponderEliminarÉ verdade Ana, a perfeição está mesmo nas nossas intenções... é triste que assim seja, mas é a realidade :)
ResponderEliminarBeijinho e continua a escrever :)