Não quero que este texto seja sobre mim ou apenas sobre mim, porque sei que ele não me retrata apenas a mim, mas a todo um conjunto de pessoas.
Vamos deambular sobre as diferenças entre 'early twenties' e 'late twenties' (desculpem, mas não encontro tradução ideal para estas expressões).
Cada idade tem as suas particularidades específicas e raras serão as pessoas que escapam a elas.
Tenho no entanto de fazer o seguinte reparo: as idades são vividas de forma diferente (ou mesmo muito diferente) consoante a cultura e o país onde crescemos. Posto isto, falarei apenas da cultura Ocidental, que é a minha, porque não me sinto no direito nem na propriedade de falar de nenhuma outra.
Todos os jovens da minha idade (os que andam entre os 25 e 30 anos, mais coisa menos coisa), já terão sentido as alteração de humor e de hábitos sobre os quais escreverei, assim que começaram a entrar na fase adulta. Sim, porque eu considero que não se é realmente adulto aos 18, mas um pouco mais tarde.
No inicio da casa dos vinte (ou talvez um pouco antes) é vulgar sentirmos uma certa urgência em estar em todo o lado e a todo o momento. E ainda que isso não seja possível, fazemos os impossíveis para que se concretize. Há uma certa ansiedade no ser-se jovem.
E uma certa esquizofrenia que nos leva a personificar múltiplas personalidades e estilos consoante o momento e o grupo onde nos vemos inseridos. Queremos ir a todos os festivais, sair todos os fins de semana, beber além da conta, fumar 'aquelas cenas' menos recomendáveis, enquanto 'desperdiçamos' tempo em conversas de café que raramente nos levam a parte alguma. Mas o que conta não são os conteúdos, mas sim o estar-se 'lá' e fazer parte do estamos a viver. O sentimento de pertença, o sentimento de partilha e, acima de tudo, aquele sentimento que nos diz que quanto mais pessoas conhecermos e mais sítios frequentarmos, mais activos e produtivos somos.
A parte do activos é sem sombra de dúvidas bastante real, já a parte do produtivos é dúbia. Mas tão pouco interessa, desde que estejamos 'lá'. I love life! It is such an adventure!
Mas quando começamos a passar o quarto de século, mais rapidamente dizemos 'não' a uma saída à noite que a uma bela noite de sono.
Imagino eu que seja por ter-se esgotado o tal 'glamour' que antes víamos em ditas actividades, ou porque já sabemos que estar de ressaca é uma merda. Pior ainda é estar de ressaca e saber que as muitas conversas que tivemos na noite anterior não nos acrescentaram absolutamente nada, senão apenas mais um vírgula aqui e ali que não vai mudar em nada o resto da nossa semana.
E como sabe bem dormir e acordar com a vias respiratórias desobstruídas! Mas também só sabemos o bem que isso sabe depois de perdermos muitas noites em claro e de nos intoxicarmos múltiplas vezes. Portanto, alguma coisa essas vivências nos terão trazido de positivo. Jesus, I love to take a nap...
No início da casa dos vinte também é vulgar sermos arrebatados por paixões assolapadas por pessoas que mal conhecemos e sobra as quais não paramos de pensar durante meses. Normalmente somos arrebatados por uma simples troca de olhares, por um estilo mais arrojado, por uma deixa mais feliz ou simplesmente porque estamos na demanda de encontrar o amor da nossa vida, do príncipe ou princesa encantados e, até provado o contrário, muitos são os potenciais detentores da coroa. Oh Lord, I am so in love with him!
No final dos vintes, mais rápido vamos jantar um naco-na-pedra com a mãe, enquanto não pensamos em outra coisa senão no bem-dito naco-na-pedra que estamos a comer e que sabe maravilhosamente, que ir a um encontro com X pessoa que talvez até tenha algum interessa mais profundo em nós, mas, até prova do contrário, aquece-nos menos que o naco-na-pedra. Oh Lord, I love food!
E isto talvez se dê porque já foi quebrado algures a ilusão de que o amor romântico é perfeito e que, muitas vezes, traz mais chatices do que benefícios.
Quando somos mais jovens coleccionamos amigos e conhecidos. Os amigos são amigos porque sim, os conhecidos igualmente porque sim. E não há nada que saiba melhor que ouvir o telemóvel tocar com a chamada de um qualquer desses amigos e suas inúmeras novidades.
Mais tarde, é um prazer deixá-lo deliberadamente no silêncio porque ainda que haja agora menos probabilidade de receber chamadas, tentamos ainda mais diminuir essa probabilidade e sermos persuadidos a ir a 'tal sítio'...porque só temos vontade de dizer que não e usufruir de uma bela tarde de silêncio, entre livros e canecas de chá.
Este é o momento em que começamos a dar mais valor a momentos passados com os pais, mas também a momentos passados connosco próprios. Queremos continuar a fazer parte do mundo, a ir a festas e a concertos, a ter amigos e partilhar conversas de café, assim como beber uns copos de vez em quando, mas de uma forma mais regrada.
No entanto, continuamos a ser jovens, ainda não empandeiramos os ténis ou os saltos-altos para usufruir da pantufa full-time. Mas já não nos parece tão estranho como antes parecia estar em casa a escrever um texto em plena temporada de festivais.
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