Aquilo que nos define pode ser muita coisa. Mas também pode ser todo um nada.
Varia consoante as luas. Varia consoante aquilo que pensamos sobre nós mesmos e como nos sentimos. Varia com os anos e com a experiência. Varia com as pessoas que cruzam a nossa vida e nos marcam. Também varia consoante quem nos olha e pensa que sabe aquilo que nos define.
Já por algumas vezes me questionaram porque trabalho, hoje em dia, num departamento administrativo, a ganhar pouco mais que o ordenado mínimo (o que já não é assim tão mau), a fazer tudo menos aquilo para o qual estudei.
Há algumas respostas possíveis para isso. Um delas é a mais trivial - 'Era o que havia. Foi o que consegui. Já ouviram falar em crise?'
Outra resposta pode ser - 'Aquilo que eu estudei não me define totalmente. Posso fazer outras coisas. E até gostar do que estou a fazer neste momento'.
Porque aquilo que nos define é o motor que nos faz avançar, seja para Este ou Oeste. Aquilo que nos define não é um conceito rotulado que nos espetam na testa, a partir do momento em que saímos duma Universidade: agora sou arquitecto; agora sou designer; agora sou médico; agora sou jornalista.
Até porque quando entramos numa Universidade, muitos são os sonhos em que acreditamos e que logo percebemos, afinal, serem apenas fantasias. Ainda somos muito novos, mal sabemos quem somos, muito menos saberemos para o quê fomos talhados.
Aquilo que nos define de melhor é a vontade de continuar. De usar todas as ferramentas que temos disponíveis para ir subjugando o tédio, a inércia e os sonhos por concretizar. Aquilo que nos define de melhor é não ficarmos parados, a receber mesada dos pais, à espera que o trabalho de sonho avance sobre nós, sem que façamos alguma coisa para avançar até ele.
Aquilo que nos define de pior é não avançar. E negar qualquer possibilidade que manche uma qualquer reputação a manter.
Aquilo que nos define de pior é insistir em esperar quimeras sem entender que essa quimera só é merecida se nos habituarmos a crescer. Se nos habituarmos à ideia, até, que crescer dói um bocado.
O meu curso define-me num determinado momento da minha vida. E as referências mais importantes ficaram. Aprendi muita coisa. Aprendi muita coisa que, inclusivamente, posso usar neste mesmo departamento. Por nada é linear. As formas não são estanques, as próprias funções também não, se soubermos integrar todos os mundos que nos interessam exactamente naquilo que estamos a fazer, e...expandir a bolha.
Aquilo que nos define nunca há-de ser um curso, mas aquilo que fazemos, e como fazemos, para (sobre)viver. E ir subjugando o tédio, a inércia e os sonhos por concretizar...
Talvez também porque o que nos define (ou o que define mts pessoas) seja precisamente essa mutabilidade, essa adaptabilidade, essa resiliência. E é bom, creio, sermos essas maquinazinhas inteligentes de adicionar mais do que subtrair, de sobreviver.
ResponderEliminarGostei muito!