domingo, 3 de maio de 2015

Aquilo que nos define

Aquilo que nos define pode ser muita coisa. Mas também pode ser todo um nada.
Varia consoante as luas. Varia consoante aquilo que pensamos sobre nós mesmos e como nos sentimos. Varia com os anos e com a experiência. Varia com as pessoas que cruzam a nossa vida e nos marcam. Também varia consoante quem nos olha e pensa que sabe aquilo que nos define.

Já por algumas vezes me questionaram porque trabalho, hoje em dia, num departamento administrativo, a ganhar pouco mais que o ordenado mínimo (o que já não é assim tão mau), a fazer tudo menos aquilo para o qual estudei.
Há algumas respostas possíveis para isso. Um delas é a mais trivial - 'Era o que havia. Foi o que consegui. Já ouviram falar em crise?'
Outra resposta pode ser - 'Aquilo que eu estudei não me define totalmente. Posso fazer outras coisas. E até gostar do que estou a fazer neste momento'.

Porque aquilo que nos define é o motor que nos faz avançar, seja para Este ou Oeste. Aquilo que nos define não é um conceito rotulado que nos espetam na testa, a partir do momento em que saímos duma Universidade: agora sou arquitecto; agora sou designer; agora sou médico; agora sou jornalista.
Até porque quando entramos numa Universidade, muitos são os sonhos em que acreditamos e que logo percebemos, afinal, serem apenas fantasias. Ainda somos muito novos, mal sabemos quem somos, muito menos saberemos para o quê fomos talhados.

Aquilo que nos define de melhor é a vontade de continuar. De usar todas as ferramentas que temos disponíveis para ir subjugando o tédio, a inércia e os sonhos por concretizar. Aquilo que nos define de melhor é não ficarmos parados, a receber mesada dos pais, à espera que o trabalho de sonho avance sobre nós, sem que façamos alguma coisa para avançar até ele.

Aquilo que nos define de pior é não avançar. E negar qualquer possibilidade que manche uma qualquer reputação a manter.
Aquilo que nos define de pior é insistir em esperar quimeras sem entender que essa quimera só é merecida se nos habituarmos a crescer. Se nos habituarmos à ideia, até, que crescer dói um bocado.

O meu curso define-me num determinado momento da minha vida. E as referências mais importantes ficaram. Aprendi muita coisa. Aprendi muita coisa que, inclusivamente, posso usar neste mesmo departamento. Por nada é linear. As formas não são estanques, as próprias funções também não, se soubermos integrar todos os mundos que nos interessam exactamente naquilo que estamos a fazer, e...expandir a bolha.

Aquilo que nos define nunca há-de ser um curso, mas aquilo que fazemos, e como fazemos, para (sobre)viver. E ir subjugando o tédio, a inércia e os sonhos por concretizar...


1 comentário:

  1. Talvez também porque o que nos define (ou o que define mts pessoas) seja precisamente essa mutabilidade, essa adaptabilidade, essa resiliência. E é bom, creio, sermos essas maquinazinhas inteligentes de adicionar mais do que subtrair, de sobreviver.
    Gostei muito!

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